Livro recupera a trajetória radical do Madrigal Ars Viva
21 de janeiro de 2012 | 3h 00
Saiu n'O Estado de São Paulo:
JOÃO MARCOS COELHO
Nascido em Santos em abril de 1961, sob o signo da Guerra Fria planetária e
da guerrinha particular da música erudita brasileira entre nacionalistas e
vanguardistas, o Madrigal Ars Viva comemora um feito raro - 50 anos de
existência -, com um suculento livro de ensaios, memórias e um registro
fotográfico. O grupo, concebido pelos compositores Gilberto Mendes e Willy
Correa de Oliveira, foi capitaneado pelo regente Klaus-Dieter Wolff até sua
morte em 1974. Funcionou como laboratório privilegiado de suas novíssimas
criações musicais. Wolff, "cria" do compositor, maestro e educador alemão
Hans-Joachim Koellreutter, imprimiu um ambicioso ideário ao grupo de cantores
amadores: recusava o grande repertório dos séculos de música tonal, fixando-se
ou na música europeia pré-tonal e colonial brasileira ou na música nova.
Grosso modo, pode-se dividir sua existência em duas fases distintas: os
primeiros 25 anos, mais radicais, quando de um lado Mendes e Willy construíram
obras chaves a partir da ligação com os concretos; e, de outro, os corajosos
anos 80, de franco engajamento.
Nos segundos 25 anos diminuiu o vigor do grupo, liderado desde 1976 por
Roberto Martins. O fim do Festival de Música Nova de Santos, evento gêmeo do Ars
Viva, anunciado no ano passado por Gilberto Mendes, deixa de certo modo o grupo
coral órfão quando ele festeja seu ilustre passado - que este volume tem o
mérito de resgatar.
JOÃO MARCOS COELHO É JORNALISTA E CRÍTICO MUSICAL, AUTOR, ENTRE
OUTROS TRABALHOS, DE NO CALOR DA HORA (ALGOL)
MADRIGAL ARS VIVA 50 ANOS - ENSAIOS E MEMÓRIASOrganização:
Heloísa de Araújo Duarte Valente Editora: Letra e Voz
(260 págs., R$ 60)