O imaginário da metrópole nas
canções tropicalistas
Prof Dr. Marcos Napolitano
(DH/USP)
Esta comunicação visa analisar as
representações e imaginários da metrópole veiculados pelas canções tropicalistas
produzidas entre 1967 e 1973. As referências tropicalistas à metrópole fizeram
parte de uma nova maneira de ler a modernização brasileira, de forma
diferenciada do imaginário veiculado pela canção engajada da época, ainda
ligada às elegias do morro (campo) e do sertão
(subúrbio) como estratégia de crítica cultural
e política. Nossa hipótese é que, ao trazer a centralidade urbana para as
letras e para as sonoridades musicais, os tropicalistas procuraram enfatizar o
choque arcaico-moderno, o cosmopolitismo periférico e a tradição poética
modernista como eixos de uma nova crítica cultural à modernização
brasileira.
As Marcas Imemoriais nas Vozes dos Intérpretes
Radiofônicos
Profª
Drª Carmen Lúcia José
Porque os textos culturais
se inscrevem num encadeamento de produção que envolve o acontecimento e a
memória, o tema central deste trabalho é pensar como os textos radiofônicos
atualizam fórmulas orais que, originariamente, pertencem a tempos e espaços
primordiais, isto é, como algumas marcas produzidas pelo corpo funcionando como
mídia das comunidades arcaicas são preservadas no repertório da espécie e
reaparecem no presente das performances vocais radiofônicas, atualmente. Enfim,
como o "performer" e o locutor continuam cantando/contando os atributos
que devem ser lembrados para que outros sejam esquecidos, deslocando o lugar da
memória: do corpo-mídia para uma máquina que, do corpo, se apropria da voz.
Namoro
& briga, as artes do forró: auto-retrato de um baile popular brasileiro
Profª Drª Cláudia Neiva Matos
PACC/UFRJ
/CNPq
Embora o samba seja mais amplamente conhecido como
gênero representativo da cultura popular brasileira, quando se trata de dançar
em pares enlaçados, o tipo de música mais difundido no país é certamente o
forró. Usado para designar imprecisamente vários gêneros da música
nordestina (baião, coco, xaxado etc.), o
termo “forró” costuma referir-se às peças de dança mais animadas, por oposição
ao xote, de andamento mais lento. Mas também denomina o próprio evento dançante
e o local onde ele ocorre: um baile popular animado por um pequeno conjunto de
músicos, cuja formação mais tradicional é o trio de sanfona, zabumba e
triângulo e/ou pandeiro. Como frequentemente acontece nas músicas feitas para
dançar, um dos temas favoritos das letras de forró é a própria crônica do
baile. Sob a perspectiva dos dançarinos ou dos músicos, o discurso descritivo
e/ou narrativo, vazado de humor, apresenta situações e tipos característicos,
girando normalmente em torno de dois tópicos: a licenciosidade erótico-amorosa
propiciada pela dança; as ocorrências de conflito e violência. Sob ótica
eminentemente masculina, os jogos da sedução e da valentia estimulam o
psiquismo sensual e as energias corporais, concorrendo juntamente para
“esquentar” o baile. Proponho uma análise poética e ideológica desse veio
temático nas letras de forró, consideradas num sistema estético e semântico que
inclui aspectos musicais e voco-performáticos. Para isso será examinado um
extenso corpus de canções colhidas na obra dos dois maiores ícones da música
nordestina brasileira, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mas incluindo também
peças de outros artistas das velhas e novas gerações forrozeiras.
Sonoridades
no ambiente urbano
Prof. Dr. Norval Baitello Jr.
O estudo das sonoridades no ambiente
urbano pode apontar dois grande indicadores: um sintoma e um modelo.
O sintoma nos conduz a uma enfermidade, o crescente desprezo pela
sonoridade e o tipo de comunicação que ela requer. O modelo nos conduz a pensar
hipóteses de um ecossistema comunicacional fundado em uma cultura do ouvir,
portanto não centrado na produção e na produtividade
Gênero musical, música romântica e mediação.
Profª Drª Martha
Tupinambá de Ulhôa
A noção de gênero musical, por mais difusa que
seja, é fundamental para o estudo da música popular na América Latina. A comunicação discute o conceito, tomando
como ponto de escuta a chamada música romântica e o trabalho de Jesus
Martín-Barbero. O estudioso da cultura latino-americana vê o gênero como um
contexto de mediação entre a lógica da produção e os formatos industriais, por
sua vez ressignificado a partir de matrizes culturais profundas. A mediação
genérica explica os vários sentidos que vão tomando (ou retomando) os sons
musicais ao longo do tempo. Assim, podemos escutar como valores culturais são mediados
pela música romântica, inicialmente sob a forma de modinha de salão e depois
canção seresteira popular, passando por boleros e sambas-canções, se
inscrevendo na canção de amor ligada à Jovem Guarda e finalmente no formato
transnacional da balada.
A Música
Popular Brasileira na Oficina da História.
Prof. Dr. José Geraldo
Vinci de Moraes
RESUMO Nos últimos anos tem crescido no circuito dos historiadores de ofício o
número de trabalhos envolvendo temas relacionados à música popular urbana. Como
ainda são raros os arquivos e bibliotecas organizadas de partituras e folhas
avulsas, registros de gravações de discos e programas radiofônicos, não existem
compilações sistemáticas, catalogações, quantificação e sistematização de
discos e difusão de canções em espetáculos e nos meios eletrônicos, e assim por
diante, boa parte dessas investigações ainda têm como referência e recorrem às
obras de cronistas, jornalistas e colecionadores, sobretudo aquelas da primeira
metade do século XX, geralmente qualificadas e tratadas exclusivamente como
fontes primárias. Todavia, mais do que sujeitos atuantes de um processo em
instituição e/ou simples memorialistas, esses cronistas formaram uma espécie de
primeira geração de historiadores da moderna música urbana (Vagalume,
Alexandre Gonçalves Pinto, Orestes Barbosa, Jota Efegê, Almirante e Lucio
Rangel). Essa geração nascida na passagem dos séculos XIX/XX além dos registros
da memória e dos eventos culturais, reuniu, organizou, compilou, arquivou e,
sobretudo, “inventou uma tradição” na nossa cultura/música popular que
permanece viva e é difundida até hoje. Na realidade eles criaram o “acervo”, a
“narrativa” e consagraram uma interpretação sobre a música popular, formando,
assim, uma espécie de corrente historiográfica. Além disso, eram na época seus
únicos historiadores, pois, tanto para os historiadores de ofício como para os
intelectuais preocupados com a preservação e difusão da cultura nacional a
música popular urbana não tinha nenhuma relevância cultural ou social. Pois bem,
essa discussão pretende justamente examinar de modo crítico o conjunto dessas
obras como um autêntico trabalho historiográfico e como elas inauguraram um
discurso que se solidificou e se consagrou com o tempo.
No princípio, era a roda
Roberto
M. Moura
Professor-adjunto das Fac. Integradas Helio Alonso
Doutor em Música pela UNIRIO
robertommoura@uolcom.br
No princípio, era a roda refaz
a trajetória histórica do samba a partir de duas convicções principais: a
primeira, de que uma coisa é o samba, um gênero musical; outra, a escola de
samba, sua institucionalização; e, uma outra ainda é a roda de samba, que é a
ambiência que permitiu o desenvolvimento do samba como gênero e, portanto,
antecede o gênero e a escola; a segunda convicção é de que a roda é o lugar
onde o sambista se sente verdadeiramente em casa – e é isso que explica o seu
ressurgimento desde que, com o crescimento e a profissionalização das escolas,
estas se tornaram progressivamente mais “rua” para aqueles que a fundaram.
A busca de uma "nova" música
popular caipira
Alberto T. Ikeda
(Instituto de Artes - UNESP -. S. Paulo)
Resumo: A comunicação
tratará de um movimento na música popular de São Paulo que vem
ocorrendo desde meados da década de 1990, de alguns grupos musicais (“bandas”)
que se voltaram para as “raízes” da música paulista (cultura caipira), mas
interessadas, ao mesmo tempo, na “modernidade”, sobretudo sob um lastro “pop-rock”. Provisoriamente, adoto
para este movimento a denominação “pop-caipira”,
diante do uso desse termo por alguns integrantes de bandas que estão
sendo estudadas. Trata-se, tudo indica, de uma das facetas “locais” (neste
caso paulista) dos tão disseminados processos de “releituras” estéticas,
típicas da denominada “pós-modernidade”, que se tornaram modismo por todo o
Brasil na década de 1990, sob o influxo também do
movimento denominado world music. No caso de São Paulo, nota-se que
a influência mais imediata nos grupos do “pop-caipira” foi a do movimento
“mangue-beat”, iniciado em Pernambuco por volta do 1991, e que teve ampla
repercussão por todo o País, destacando-se nele a figura do compositor Chico
Science, falecido em 1997. Algumas bandas a serem comentadas são: Fulanos de Tal, iniciada em 1996, em Rio
Claro; Mercado de Peixe, surgida em
1997, na cidade de Bauru; Matuto Moderno,
que teve início na capital, em 1999; e outras. Busca-se nesta comunicação,
introdutoriamente, uma compreensão dos meandros histórico-sociológicos que dão
lastro ao movimento musical em questão.