quarta-feira, 21 de abril de 2010

3º Encontro de Música e Mídia: As imagens da música (2007) Resumos

Música Apócrifa: a legitimidade do compositor da televisão brasileira

Alexandre Negreiros,
MSc/UFRJ
alexandrenegreiros@yahoo.com.br


Neste trabalho, apresento o eixo principal de minha pesquisa de mestrado, em que analiso a legitimidade dos compositores predominantemente dedicados à TV brasileira, inseridos num contexto cultural e sob escala de valores que os admite ou não, segundo critérios que busquei observar. Inicio analisando os critérios do sistema instituído de legalização de usos de obras musicais. Introdutoriamente, recorro ao contrato entre a Associação Brasileira de Editores Reunidos (ABER) e a TV Globo, para os direitos de administração privada e, para os de gestão coletiva - eixo de minha abordagem - analiso os regulamentos do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais de execução pública (ECAD).Sigo com uma breve análise econômica da arrecadação do ECAD e, nela, destaco a relevância das emissoras de TV e algumas peculiaridades dessa rubrica nos critérios de distribuição que incidem sobre a obra dos titulares a ela vinculados. Um pequeno painel histórico e político dos últimos anos do órgão encerra esta etapa, onde procuro identificar suas principais características, qualidades e desafios. Encerro analisando aspectos centrais na organização de trabalho desses titulares, confrontando-os com conceitos “admitidos” para sua obra e presentes em leis vigentes. Interagindo essa relação com os dados econômicos e políticos levantados, uso uma reflexão de Leonard Meyer sobre o ‘valor’ na música, considerando também outros trabalhos e uma análise sobre as diferentes “escutas”, para responder algumas questões relacionadas à legitimidade desta categoria de “desconhecidos” cuja música é, queiramos ou não, a música brasileira mais ouvida no mundo.


Mídia, música e educação: a trilha sonora dos programas “Xuxa no mundo da imaginação” e “tv xuxa” da rede globo e suas implicações com a educação musical

José Nunes Fernandes - UNIRIO
Augusto Pires Ordine - UNIRIO
Contato: jonufer@globo.com

A pesquisa busca compreender as implicações educativas da trilha sonora de um programa televisivo infantil brasileiro em dois momentos. O primeiro se refere a cinco programas consecutivos gravados de “Xuxa no mundo da imaginação” (07/06/04 – 11/06/04). O segundo se refere a cinco programas consecutivos gravados de “TV Xuxa” (19/09/2005 – 23/09/2005). Ambos programas infantis apresentados por Xuxa Meneghel pela manhã na Rede Globo. Como critérios de análise foram usados os “graus de proximidade” (ou verossímeis) propostos por Porta (1997). Os citados “graus de proximidade” envolvem desde uma análise mais técnica, de parâmetros musicais e desenvolvimento musical, até suas implicações ideológicas no produto final que chega ao público. Uma abordagem sob o prisma educacional permeia toda a análise, tendo-se em conta a presença maciça da TV nos lares brasileiros como fonte principal de informação, cultura e entretenimento. Cumpre informar ainda que a segunda versão do programa, “TV Xuxa”, foi inicialmente ao ar em 2005, após uma série de mudanças ocorridas no “formato” anterior, denominado “Xuxa no Mundo da Imaginação”. Tal discussão, do programa anteriormente citado, foi objeto de estudo pelo grupo de pesquisa “Música, Mídia e Linguagem audiovisual” (CNPQ) em trabalhos apresentados em congressos e publicações ulteriores, e as conclusões então estabelecidas serviram de base e continuação para a análise atual.

O Fado: características melódicas, rítmicas e de performance.

Alexandre Francischini – Unesp
alefrancischini@terra.com.br
Marcos Júlio Sergl – Universidade São Judas Tadeu/Unesp
mj.sergl@uol.com.br
Rafael Eduardo Gallo – Unesp
gallorafael@yahoo.com.br


O fado pode ser considerado uma das marcas mais importantes da produção musical portuguesa, sobretudo das cidades de Coimbra e de Lisboa, um elemento de auto-afirmação da cultura lusitana e uma das formas mais autênticas para externar o jeito de ser, de sentir e de saber lidar com questões do cotidiano, em particular, as relações amorosas. Gênero inicialmente popular no Brasil, migra para Portugal provavelmente em 1821, no retorno da Família Imperial a esse país; passa por diversas reestruturações literárias e musicais; recebe influências de outros gêneros musicais portugueses, dos quais mescla elementos próprios de cada um deles com elementos característicos do fado; se recria constantemente por interferência das diversas gerações de compositores e se abre para um leque de sutis, porém definidas diferenças, pelas quais pode ser classificado em fado castiço, mais antigo, que, por sua vez, se subdivide em: maior, menor, corrido e mouraria; e, fado canção, mais recente. É nosso propósito analisar esse percurso e essa segmentação, comparar conclusões de pesquisadores que se dedicaram a esse estudo, analisar canções fundamentais de cada segmento a partir da recompilação, respaldada em critérios científicos estabelecidos por teóricos da música popular, e estabelecer um quadro de referência para futuros estudos a respeito desse gênero musical.

“. . . e Seguindo as Canções” – Cantos de Diáspora

Werner Ewald
Instituto Superior de Música de São Leopoldo
Instituto Ecumênico de Pós-Graduação
Werner@est.com.br

Resumo: O texto aborda canções compostas e entoadas para e pelos personagens envolvidos na história de diáspora de grupos de fala germânica da Europa Central para o Brasil e ocorrida no século 19 até inícios do século 20. Estas canções são uma das melhores fontes primárias desta história e permitem insights ímpares e especiais para se entender como aquelas pessoas que se deslocaram de um continente para o outro, se percebiam e se representavam ou eram levados a perceber sua situação. Signos de uma identidade, estas canções refletem a situação de origem dos emigrantes no “velho mundo” e como eles projetam, entendem e constroem o lugar de seus sonhos e esperanças no “novo mundo”. O trabalho centra-se na análise de algumas dessas canções selecionadas de cancioneiros, de literatura especializada e coletadas em pesquisa etnográfica ou em folhas soltas de arquivos históricos. Investiga pontos centrais das condições, experiências e inter-conexões de um grupo étnico (o de fala germânica, mais tarde denominado teuto-brasileiro ou genericamente “alemães” ), sua ordem social e sua cultura desde seus inícios até a atualidade.

A(s) música(s) que v(ê)m da(s) rua(s) – periferia x centro?

Magda Dourado Pucci
mestranda em Antropologia – PUC –SP
mdpucci@uol.com.br

Esta comunicação levanta algumas questões presentes na discussão sobre a música que vem da rua, que se cria marginal, fora do circuito cultural de elite; mas não apresenta respostas definitivas nem conclusões tendo em vista que o assunto vem sofrendo mudanças constantes e necessita de um maior distanciamento. O choque entre periferias e centros, pobres e ricos, brancos e pretos é uma constante na sociedade. Observamos uma explosão da miséria nas ruas que se expressa das mais diferentes formas, como o rap, o funk, tecnobrega e o sertanejo que seguiram a trilha da marginalidade, mas vêm ganhando espaço crescente nas mídias e um mercado crescente. Esse fenômeno, que parece ser uma característica da pós-modernidade, é antigo. Nos tempos da escravidão no Brasil, as rodas de capoeira foram proibidas pelos senhores do engenho, temerosos dos gestos “violentos” e da perniciosidade dessa prática, que hoje é “programa cultural” para turistas. O funk carioca, cuja expressão foi fixada em territórios do morro, agora, é tocado nas casas noturnas das capitais do país para entretenimento de uma jovem elite. Seria a mesma domesticação que houve com a capoeira? Há também o tecnobrega no Pará, um fenômeno de massa que reverteu as regras do mercado fonográfico. Embora se mantenha como música marginal, é inegável o sucesso de suas vendas “informais”. A música sertaneja de origem caipira, isto é marginal, hoje é consumida pela elite do país, sem constrangimentos. Há um fascínio por aquilo que está fora do centro, pela expressão marginal presente na periferia. Paira sobre nós o espírito de Oiticica: “Seja Marginal, Seja Herói”? Que marginalidade é essa que legitima e desautoriza ao mesmo tempo? Se a música da periferia pode causar tanta atração e tanta repulsa ao mesmo tempo, é porque ela suscita novas formas de expressão. Em tempos de globalização esse fenômeno ganha novas dimensões.


A leitura gráfico-musical sob o “olhar” de Merleau-Ponty


Denise Andrade de Freitas Martins
Professora da FEIT/UEMG e do Conservatório Estadual de Música de Ituiutaba, M.G.
denisemartins@netsite.com.br

A partir de pesquisa realizada em Conservatório Público Mineiro sobre as implicações dos programas de piano nos diferentes objetivos de alunos e professores, ao longo de seis meses com observação não-participativa e aplicação de entrevista semi-estruturada, observou-se que muitos complicadores emergiram da situação investigada, a relação aluno-piano-professor, trazendo à discussão questões ditas simples em seu aparecimento mas complexas em sua realização, como por exemplo: qual é o momento mais adequado à introdução da leitura gráfico-musical nas aulas de música, de que forma introduzi-la , como é a sua apreensão, como se dá a percepção e o entendimento musicais de crianças e adultos? Para tal, buscou-se nos estudos do filósofo francês Merleau-Ponty, em suas obras Fenomenologia da Percepção(1994) e Signos(1991), o principal suporte teórico desta pesquisa, quando trata da percepção, do corpo próprio e da linguagem como componentes fundamentais na relação homem-mundo, aqui especificamente a relação ser aluno de piano.Verificados na relação aluno-piano-professor o rompimento e(ou) continuidade do discurso musical diante da leitura gráfico-musical, a quebra de uma linguagem frente a um signo, a interferência e não independência dos sentidos, o transplante demasiadamente confuso no uso de uma linguagem para explicar outra, a idéia de que a leitura gráfico-musical pode ser mais um complicador do que um procedimento fundamental e indispensável às aulas de música, não pela sua inaplicabilidade, mas pela sua complexidade de aplicação, é que se justifica a necessidade da discussão aqui proposta, condição essa presente nas mais diferentes situações, aqui especificamente na relação aluno-piano-professor.

A relação trilha musical e a narrativa no filme “A professora de piano”: uma visão intertextual

Eduardo Barbaresco Filho
Mestre em Música e Semiótica pela UFG. universoed@hotmail.com


O interesse nesse artigo é o de abordar o enredo do filme “A professora de Piano” e suas perspectivas quanto à relação intertextual e diegética, com destaque para a sua trilha sonora. Percebe-se que toda a música produzida no filme é feita durante as cenas, sendo que ela dirige o espaço da trama, entrelaçando temáticas diversas como: o ciúme musical, a personalidade marcante e voyeur da protagonista e seu comportamento moral, sexual moral/sexual ou moral e sexual. O telespectador ao escutar a trilha, sabe de onde esta provém, formada no desenvolvimento do enredo. Assim, trata-se de um filme musical dialogando com o próprio universo da música, quando, por exemplo, a protagonista - professora de piano - apaixona por um de seus alunos, um pianista talentoso que toca obras de Schubert com grande facilidade. Schubert nesse contexto é uma das principais inspirações para a professora. Então, presume-se um amor musical e passional humano, dialético, onde o som musical interliga além das cenas, a história de vida da protagonista. A trilha conduz o ouvinte/telespectador a uma descoberta da personagem principal, navegando por seus desejos mais íntimos e reprimidos, sua insanidade, ou loucura humana, espelhando a imagem do “artista louco” já dito outrora por pensadores Deleuzianos. Um campo situacional entre linguagens é observado, com esse paradigma intertextual, em função das possibilidades representacionais estarem coagidas e intricadas em questão na relação música e filme, ou melhor, música e filme musical.

“Primeira Impressão”: Uma produção audiovisual como narrativa histórica

Profa. Drª. Márcia Ramos de Oliveira
Acadêmicos: Alan Carlos Ghedini
Anderson Florentino da Silva
Débora Mendes Bregue Daniel
Departamento de História / UDESC


Resumo: Partindo de uma nova dimensão de pensar a história, que procura relativizar a ordem dos discursos e transmitir os acontecimentos através de uma outra linguagem, o audiovisual tem ganhado espaço como um recurso importante para o discussão e análise dos processos históricos. Nesse sentido, nossa proposta é pensar de que maneira a produção audiovisual pode contribuir para uma nova proposta de produção historiográfica, percebendo na imagem e no som, importante auxilio na construção de narrativas. Através do audiovisual “Primeira Impressão” , produzido no Núcleo de Estudos Históricos do CCE-UDESC, pretendemos mostrar de que maneira o audiovisual pode ser percebido como construção de uma narrativa e reflexão, podendo essa expressão se dar através de uma musica, seqüência de imagens, contraposição de imagens e som, etc. A partir dessa experiência refletir como esses produtos cinematográficos são construídos: quem produz, pra quem está produzindo e quais são os objetivos.

De Francisco Alves a Roberto Jerferson: Nervos de aço, trajetória e narrativa da canção na construção de personagens e contextos

Profa.Dra. Márcia Ramos de Oliveira
Departamento de História / UDESC

A canção Nervos de aço foi gravada pela primeira vez em 1947 e, tornando-se referencial a trajetória de seu compositor – Lupicínio Rodrigues -, enquanto destacado representante do gênero samba-canção. Desde seu surgimento, pouco passou desapercebida, fosse pela força de seus versos associados a passionalidade de seu criador, ou pela intensa dramaticidade das diversas interpretações embaladas pela sua força melódica. Indissociáveis expressões da fala do compositor, e de seus intérpretes, esta canção isoladamente preconizou toda uma série de incidentes e fatos relacionados a sua manifestação. Das tentativas de suicídio que a imprensa das décadas de 1940 a 50 relatava ou, ao conturbado episódio de denúncia do mensalão no Congresso Nacional Brasileiro no ano de 2005, Nervos de aço recria-se a cada novo contexto. Este trabalho pretende abordar parte da extensa biografia desta canção.

Mulheres da musica na revista illustração pelotense: a imagem como construção de identidade

Isabel Porto Nogueira
Doutora em Musicologia, Professora do IAD/UFPel,
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
isanog@terra.com.br
Francisca Ferreira Michelon
Doutora em História, Professora do IAD/UFPel,
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
franciscafmichelon@yahoo.com.br

Este artigo pretende analisar as imagens de mulheres intérpretes publicadas na Revista Illustração Pelotense, publicação quinzenal impressa na cidade de Pelotas (RS) no período 1919-1927, analisando a importância da imagem da mulher musicista nesta publicação a partir de seu contexto histórico. No momento de publicação da Revista Illustração Pelotense, o positivismo valorizava fortemente a educação musical como elemento fundamental da boa educação feminina. A Revista Ilustração Pelotense representou, no período 1919-1927, um importante veículo estético e cultural para a cidade de Pelotas e estado do Rio Grande do Sul, divulgando eventos musicais e idéias de intelectuais, promovendo um entrelaçamento entre arte, cultura, mundo elegante e intelectualidade. Ao mesmo tempo, representou um veiculo importante para a “invenção” de uma identidade feminina moderna, uma vez que as mulheres se constituíam em um novo e importante publico leitor, para o qual as revistas ilustradas se dirigiram. Observamos aqui um interessante processo de “invenção” de um modelo feminino de modernidade para a época, de uma mulher urbana apreciadora de artes, música, poesia, moda e literatura francesa; e desempenhando também novos papéis dentro da sociedade. Observamos a atuação de mulheres musicistas, fazendo com que se perceba a legitimação da mulher artista dentro dos novos papeis de participação social feminina que se abrem nos anos 1920. Desta forma, a Revista foi importante meio de divulgação da produção musical da cidade, e entendemos que o estudo dos artigos e imagens nela publicados pode lançar novas e importantes luzes para o entendimento do cenário cultural do RS no começo do século.

A invenção do “outro”
Cinema contemporâneo, repertórios musicais e construção de identidades urbanas

Bernardo Rozo
Doutorando em Etnomusicologia. Escola de Música da UFBA
rozosensei@yahoo.com

Os universos urbanos e as complexas indústrias culturais da atualidade oferecem uma extensa variedade de produtos ligados ao entretenimento, mas que também estão profundamente ligados às mudanças socioculturais que vivem os cidadãos. A música dos filmes contemporâneos é um desses produtos controvertidos. Nestes contextos, será que é possível uma etnomusicologia que estude a música do cinema além das questões sonoras? O presente trabalho procura sentar as bases sobre as quais poderia ser desenvolvida uma pesquisa etnomusicológica holística sobre os repertórios musicais do cinema contemporâneo, principalmente dos filmes que, desde as cidades, tentam apresentar ou representar uma alteridade étnico-racial que esta cada vez mais presente nas metrópoles. A idéia principal é refletir entorno da possível relação e/ou influência destas músicas e a construção social da idéia do “outro” cultural (índio, negro, campesino, cigano, etc.), e, como conseqüência, observar como é que são construídas algumas formas identitárias urbanas, assim como também os princípios de interação interétnica.

Incidental: a música como meio
Caio Manoel Nocko – UFPR/ Essei
caionocko@uol.com.br

O presente artigo investiga a relação da música com outras artes – literatura, as artes cênicas, as artes plásticas e a dança – no que diz respeito ao entendimento da arte dos sons como ‘música incidental’. Conecta, ainda, tais relações com gêneros propriamente musicais, como a canção e a ópera, buscando a mesma interpretação sobre o conceito de ‘música incidental’. De um lado, o foco é a conceituação de ‘música incidental’ e sua correlação com os fatores extra-musicais e a distinção entre música ‘incidental’ e aquela denominada ‘trilha sonora’. Aonde acaba uma e começa outra? Mas o intuito é também de aprofundar não só a ‘classificação’ em si, mas as diferentes formas em que a música atua em conexão com cada um dos diferentes fatores extra-musicais. De certa forma, um estudo da música ‘como meio’, seja puro ou composto. Para tanto, autores como Lívio Tragtemberg, Jorge Lima Barreto, David Sonnenschein e Theodor Adorno serão considerados, entre outros.

Os sons que vendem

Juliano Matteo Gentile
Mestrando no Programa de Pós-graduação em Música da UNESP
jugentile@uol.com.br

O amolador de facas, o carro do vendedor de morango, o veículo de onde se anuncia a pamonha de Piracicaba, cada um com um tipo específico de som para chamar nossa atenção e anunciar um produto ou serviço, o velho conhecido pregão O comércio sempre esteve ligado à necessidade de divulgação, seja ela visual ou sonora. Este trabalho aborda uma delas, qual seja, a música como recurso sonoro dos comerciantes no ambiente urbano. O objetivo é reverberar e discutir os estudos do educador e musicólogo canadense R. Murray Schafer sobre paisagem sonora. É uma tentativa de atualizar algumas informações referentes aos sons da rua como apelo ao consumo, uma vez que Schafer realizou suas pesquisas na primeira metade da década de 1970, a maioria delas em cidades européias e canadenses. Parte-se aqui do conceito de paisagem sonora como o conjunto de ambientes sonoros, sejam eles sons naturais, industriais ou mesmo construções abstratas, como composições musicais. Tendo isso em vista, este trabalho será apresentado em três partes: a primeira trata dos pregoeiros de rua como personagens históricos dos centros urbanos e das transformações dos sons da rua com a revolução industrial e tecnológica; a segunda traz uma abordagem real do recurso sonoro dos comerciantes, incluindo lojistas, a partir de um estudo de campo em duas regiões tradicionalmente ligadas ao comércio no centro de São Paulo; finalmente a terceira parte entra no âmbito mais propriamente musical, procurando levantar a discussão sobre a relação entre música e paisagem sonora.

Sonora palavra: Poesia e textura na obra vocal Contemporânea

Marcia Taborda
UFSJ
marciataborda@globo.com

Questões fundamentais subjacentes ao progresso tecnológico afloraram nas últimas décadas, trazendo a necessidade de reavaliação de conceitos referentes à própria natureza da matéria musical e às possíveis formas de sua organização. Novas relações entre as propriedades do som - altura, timbre, intensidade, duração – espaço, levaram ao desaparecimento dos eixos vertical/horizontal, e proporcionaram novas perspectivas relacionadas a escritura, escuta e análise desse material. A voz, "único instrumento comum a todas as civilizações musicais" segundo Pierre Schaeffer, devido à extensa gama de associações e riqueza de suas possibilidades, foi dos instrumentos mais receptivos aos novos processos, englobando desde os padrões técnicos da vocalidade tradicional, aos mais variados aspectos da experiência vocal cotidiana. Devido à quase invariável ligação à palavra, vamos notar que a inter-influência texto-música sofreu inúmeras e marcantes modificações ao longo desse processo: textos serão traduzidos em textura, passando a ser escolhidos por suas possibilidades fonêmicas, podendo (ou não) ser organizados de maneira a produzir um resultado cujo significado seja não verbal. Utilizando exemplos de Luciano Berio, Vânia Dantas Leite e Jocy de Oliveira, propomos apresentar alguns modelos de realização vocal num contexto onde a finalização da obra surge dos processos de parceria na relação compositor/intérprete.

As imagens da escuta musical: sonoridades

Rodrigo Fonseca e Rodrigues
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (2007)
FCH/FUMEC – BH
rodfroes@gmail.com

Escutamos a música, o sentido nela implicado, as progressões harmônicas, as distribuições polifônicas, a respiração e a lírica no canto, as palavras, as frases, os significados, a vocalidade, percebemos texturas sonoras, geramos imagens internas e estados sentimentais. O que não percebemos, no entanto, são as virtualidades inimagináveis que maquinam o regime sensível da escuta: modulações e ritmos incorporais, nem sempre sonoros, mas simplesmente intensivos. Perguntamos se não seria preciso pensar a escuta musical para além – ou aquém – das imagens atualizadas ( as afecções ), das imagens sonoras ou simbólicas que ela produz, porém acolhendo também, na sua concepção, imagens pré-sensíveis, a-formadas, até mesmo sem nenhuma referência ao som. Por isto, faz-se necessário re-imaginar a escuta não como um fenômeno ligado ao sonoro, mas como uma paradoxal composição de "imagens-movimento", de "imagens-tempo". A sonoridade é um conceito que talvez exprima o que os conhecidos conceitos de som, de objeto sonoro, de forma e de matéria sonoras ou musicais não alcançariam. Com efeito, a sonoridade não descreve a coisa sonora, nem uma qualidade ( como, por exemplo, o timbre ), mas antes um processo imanente de tempos implicados na escuta, uma realidade heterogênea composta por ritmos intensivos que subsistem a realidade extensiva do som ou do signo. A sonoridade é, para a nossa discussão, uma palavra desejável, porque ela expressa uma composição singular de sensações, naturais e inventadas, de imagens formadas, de memórias, de signos, de valores, mas sobretudo de imagens não formadas, de puros movimentos imperceptíveis, de temporalidades incomunicáveis, apenas criativas e indecidíveis. A sonoridade será o movimento intempestivo da escuta, a sua própria imagem, composta por devires e afetos, essas forças inexpressas do Tempo que animam a nossa realidade sensível da música.

Ctrl+X, Ctrl+C & Ctrl+V
Cut, Copy and Paste – da reciclagem ao LEGO® em música.

Julio Cesar Lancia
Mestrando do Curso de Pós Graduação em Música– UNESP
jclancia@gmail.com

Este trabalho tem como objetivo discutir um conjunto de técnicas de edição sonora simples e amplamente difundido na contemporaneidade: cortar, copiar e colar. A partir de procedimentos como citação, reutilização de temas, edição de material pré-gravado e sobreposição de fragmentos de música, o texto busca apontar antecedentes históricos e sua utilização no século XX; discutir o componente carregado de visualidade e materialidade dessa concepção de manipulação de áudio – desde os procedimentos em fita até os atuais sistemas digitais, tanto nos métodos quanto nos equipamentos –; e apontar algumas conseqüências da manipulação sonora baseada nesse conceito, como as práticas dos DJs, as regravações e remixes que utilizam material gravado por artistas até já falecidos e os subgêneros criados pela sobreposição de elementos pré-existentes. Por fim, alguns comentários serão feitos sobre a necessidade de observarmos e repensarmos o novo compor derivado dessa idéia.

O experimentalismo na trajetória musical dos Mutantes

Daniela Vieira dos Santos.
Mestranda em Sociologia pelo Programa de pós-graduação em Sociologia da UNESP
FCL/Ar. Bolsista da FAPESP daniunesp@yahoo.com.br

O trabalho tem como objetivo analisar a produção musical dos Mutantes, vinculada ao movimento tropicalista, no período de 1967 a 1976, a partir da análise sócio histórica da canção. Pretendemos entender como as experimentações sonoras do grupo estavam vinculadas aos aspectos mais evidentes da sociedade no final dos anos de 1960. Estamos considerando as mudanças experimentais ocorridas na trajetória musical dos Mutantes para analisarmos questões relevantes na passagem dos anos 60 aos 70. Tomamos como referência maior o movimento da contracultura que engendrou não só no Brasil como no exterior significativas transformações à sociedade nos âmbitos morais, políticos, culturais ou ideológicos. Trata-se aqui de uma análise sociológica da cultura que privilegiará a música como uma forma de documento social (histórico) de análise. Tal empreendimento se justifica na medida em que há poucos estudos acadêmicos nessa área, portanto, a necessidade de se preencher essa lacuna sobre o estudo entre música e sociedade, assim como expandir as interpretações já realizadas sobre o tropicalismo musical.

Podcast como mídia de criação

Paulo C. Chagas
Universidade da Califórnia, Riverside
paulo.chagas@ucr.edu

Podcast é um nova tecnologia inspirada do rádio que emergiu na Internet, impulsionada pela popularização do tocador iPod, e que se firmou rapidamente como mídia digital. Este artigo examina o potencial do podcast como veículo de criação artística em projetos que exploram a comunicação intermídia no âmbito da cultura global. Estes projetos estão sendo desenvolvidos no âmbito do curso “Performance Global”, que estou ministrando na Universidade da Califórnia, Riverside. Os estudantes realizam podcasts a partir de diversos materiais – sons ambientais, voz, músicas etc. – e refletindo sobre temas relacionados à identidade, esquizofonia e nomadismo. Um dos aspectos fundamentais deste curso, que constitui o embrião de um projeto de pesquisa, é estimular a reflexão critica sobre o impacto da tecnologia digital sobre a sociedade. A hipótese levantada por este artigo é que o exercício desta critica não pode restringir-se à ao texto e linguagem; ela precisa incorporar a atividade prática, de manipulação dos próprios aparelhos da tecnologia informática e áudio-visual. Em outras palavras: para compreender e criticar a tecnologia é necessário utilizá-la de forma criativa.Na apresentação deste artigo pretendo tocar e discutir exemplos de podcasts realizados pelos estudantes e avaliar a hipótese em função dos resultados pedagógicos.

A Canção na cena cinematográfica

Carmen Lucia José – Universidade São Judas Tadeu
cljose@uol.com.br
Elisabete Alfeld Rodrigues – PUC/SP
ealfeld@uol.com.br

O cinema nasce mudo mas já acompanhado da música para aclimatar e ritmizar o que é sugerido na representação da cena. Neste primeiro momento, a música é instrumental e não-diegética porque a música não pertence ao espaço-tempo do enredo. Ao ganhar a banda sonora, a música torna-se trilha, isto é, vem recortada em fragmentos que passam a apresentar diversas durações conforme o tempo dos recortes da cena. Neste segundo momento, apesar da trilha ainda continuar sendo usada como som não diegético, como era feito anteriormente, a trilha conquista o seu lugar no interior da cena cinematográfica, passando a pertencer ao espaço-tempo do enredo, tornando-se, portanto, diegética. A partir daí, o filme cinematográfico visibiliza-se como texto cultural resultante da interface entre imagem visual e imagem sonora. No cinema, a cena é constituída dos seguintes elementos: os personagens, a ação e o cenário; o áudio é constituído da palavra falada, da música/trilha sonora e dos efeitos sonoros. A proposta deste estudo prioriza a função da música/trilha como um dos componentes responsáveis pela criação da dramaticidade da cena. Interessa-nos, portanto, a análise da música/trilha situada na interface entre a imagem visual que constrói a cena e a imagem sonora que dela faz parte. Para realizar esta proposta, selecionamos a trilha sonora da vinheta de abertura do filme “Eu, Tu, Eles”, dirigido por Andrucha Wadigton e sound-design de Gilberto Gil, quando a letra da canção devidamente interfacetada na cena torna-se unidades de ação da personagem-protagonista, ressemantização da canção como trilha do filme.

Transcrição fonética do fado

Simei Paes.
simeipaes@click21.com.br

A transcrição fonética é um instrumento criado para registrar a fala de determinadas línguas de forma consistente e sistemática. Podemos dizer que a transcrição fonética é uma representação simbólica que pretende captar tantos aspectos da realização sonora quanto possível, sendo um instrumento básico de aproximação da pronúncia para o lingüista ou para quem deseja utilizar o recurso. Pode-se pensar à primeira vista que, idealmente, a transcrição deve ser um registro completo e fiel da língua estudada, porém o mais competente “transcritor” não é capaz de anotar todos os aspectos do sinal sonoro, muito embora se deva sempre buscar um alto grau de fidelidade em toda e qualquer transcrição fonética; em suma, a transcrição fonética é uma representação daquilo que o falante de uma língua considera serem as propriedades fonéticas de uma realização, tendo em conta, o nível da fala e o conhecimento que porventura o falante possui das regras de gramática da língua. Busca-se na transcrição fiel, a necessidade de constituição de símbolos discretos que represente o contínuo (ou quase contínuo) sinal fonético da fala. A boa transcrição é aquela que busca abstrair de certo tipo de propriedades do sinal fônico, os traços prosódicos, ou seja, o tom da voz, a entoação e a intensidade. Este texto visa levantar uma questão muito discutida, de como cantar um fado, já que em tese, Brasil e Portugal possuem a mesma língua, se é possível neste caso, utilizar ou não de transcrição fonética, recurso muito usado no campo erudito, para tentar transcrever um texto de uma música considerada popular. Transcrição do fado “Foi Deus” baseado na pronúncia da grande cantora de Fado, Amália Rodrigues.


“Quem não a conhece não pode mais ver pra crer”:
Memória, Identidade e Negritude na Canção Popular

Ricardo Santhiago
Núcleo de Estudos em História Oral – USP
rsanthiago@usp.br

A História Oral, superando a condição de ferramenta e caminhando rumo à sua afirmação disciplinar, tem como desafio a incorporação de fontes que contribuam para a validação de versões históricas não consagradas por documentos oficiais. Nesse contexto, a canção popular é capaz de evidenciar a reserva de memória de um grupo em uma época. A canção moderna, produzida a partir de 1958, apresenta-se assim como fonte substanciosa para uma história do tempo presente afeita a estudos de Memória e Identidade. Na pesquisa que ora desenvolvemos, de registro e análise de histórias de vida de cantoras negras que não se vincularam ao samba ou a outros gêneros originados no segmento negro (entre elas estão Alaíde Costa, Rosa Marya Colin e Adyel Silva), despontam as seguintes premissas: 1) a associação corrente e feita entre negro e cultura negra; e 2) a invisibilidade entregue ao negro que transpõe as barreiras culturais de sua etnia. A historiografia oficial, sem se furtar ao trato das dificuldades de integração do negro na sociedade, perde de vista esta filigrana, revelada pela canção. Nesta comunicação, são analisadas obras musicais gravadas a partir de 1958 que se articulam à problemática apresentada. Elas são referenciadas à canção Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque de Hollanda, que dispõe inúmeras associações entre mulher negra e cultura negra e, como exemplo modelar do conjunto trabalhado, pronuncia-se de forma depreciativa a respeito da mulher que desfaz esse vínculo.

A escuta do olhar: as novas ressonâncias do design e suas conexões com a música

Maria Lucília Borges
PUC/SP – Doutorado
luciliaborges@yahoo.com.br

O objetivo deste artigo é investigar as novas ressonâncias do design e suas conexões com a música, como pensá-lo para além de uma existência material, “real”, mas possível, virtual. Partimos da hipótese de que música e design não apenas podem ser de mesma natureza como podem ocupar os mesmos territórios. Embora o design tenha estado por muito tempo subordinado ao “sólido” e à visão, o ouvido, enfim, parece se desvelar e mostrar-se em sua “liquidez”. O olho que “escuta” encontra o ouvido que “vê”. O design não apenas “vê”: ouve e toca. Um design, entretanto, que não é imagem, nem som, mas algo que ultrapassa as barreiras do próprio som e da imagem, de qualquer representação de um no outro, e “transpassa” um E outro, entra por todos os poros e não apenas pelos ouvidos. Algo relativo à frequência e à percepção das qualidades dos fenômenos sonoros e luminosos descartando seus aspectos físicos, indiciais e simbólicos para se concentrar em algo que está além do som, além da imagem: o objeto em si mesmo. É o que Pierre Schaeffer chama de escuta reduzida e que poderíamos atribuir também ao olhar. Para Schaeffer (1966), o objeto sonoro não tem uma existência “em si”, constrói-se através da escuta, uma escuta isenta de julgamentos, aberta, capaz de ouvir não só o sonoro mas o possível musical. É nesse mesmo sentido que falamos de um design, tanto abstrato quanto possível, que se constrói através de uma (também) “escuta”, uma (quem sabe) escuta do olhar.

Em busca da saudade, um percurso a partir do repertório do programa Presença portuguesa

Susanna Ventura (MusiMid)
ventura.susi@hotmail.com


Esta comunicação realiza uma breve análise das letras de 8 entre as 40 músicas mais pedidas no programa de rádio “Presença Portuguesa”- transmitido atualmente pela Rádio Universal 810 AM, de Santos – SP. A lista foi informada em 2006 pelos produtores musicais Manoel Joaquim Ramos e Lídia Miguez à pesquisadora Heloísa de Araújo Duarte Valente. O objetivo deste trabalho, que se agrega a uma pesquisa mais ampla, é o de analisar temas e seus tratamentos nestas obras, de modo a delinear o “imaginário” formado por este conjunto. O grupo de músicas é composto por: “Foi Deus”, “Lisboa antiga”, “A casa da mariquinhas”, “Lágrima”, “Júlia Florista”,“Lisboa menina e moça”, “Gaivota” e “O xaile da minha mãe”.

Q Assinatura Musical: a Identidade Sonora da Marca.

Luísa Iolanda de Souza Borges (Iniciação Científica CNPq e MackPesquisa) (luiolanda@msn.com)
Orientadora: Gláucia Davino (gcine@arquitetos.com)

Esta pesquisa buscou investigar e apontar alguns parâmetros para a criação de uma Identidade Sonora, identificando semelhanças e analogias entre a linguagens sonora e a imagética, fatores culturais, etários e psicológicos que influenciam o processo de memorização de uma frase musical, contando com a observação de aspectos teóricos de outras ciências e não somente as puramente musicais. Na sociedade midiática e fortemente audiovisual, as grandes empresas contam com o recall para construir estratégias para uma comunicação mais próxima e memorável com o consumidor, de forma que se sinta seguro e fiel a uma Marca que garanta um ideal, um compromisso e um status. Diferentemente das imagens, o som contamina o ser humano sem necessariamente ser percebido. A Identidade Sonora é a dimensão sonora que torna uma Marca única. As reflexões que incitaram a pesquisa foram a coerência de uma sonoridade com uma Marca e sua atuação na memorização dos conceitos que ela significa. Para os processos de apreensão e memorização dos sons e as relações com frases de fácil memorização, utilizamos aspectos da psicologia, da semiologia e das leis da Gestalt. Para preparar os diversos leitores para as análises seguintes passamos sobre as formas de notação e composição. Depois, realizamos a análise das linguagens auditivas e visuais de dois casos bem sucedidos passando pelos motivos das suas concepções, desde a história da até sua forma final.


Música como narrativa de cena: Moda à Terra
Nash, Ricardo.
ricnash@hotmail.com

Este artigo propõe uma reflexão sobre as diversas relações existentes na construção da obra Moda à Terra: estudo de caso da tese Música e(m) Cena: processo de criação em mídias diversas, orientada por Silvio Ferraz. A tese, defendida no programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP, foi apresentada no Teatro Oficina, em outubro de 2006. Moda à Terra é uma intervenção performática lítero-musical. O nome lítero-musical se refere à combinação da música com literatura, mais especificamente à colagem de poesias, ou apenas de fragmentos de textos poéticos de Padre José de Anchieta, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e do próprio autor e intérprete. O artigo analisa as diversas relações tecidas na composição musical: a criação do texto cantado a partir de um tema dado; a relação entre palavra cantada e palavra falada, a relação entre o instrumento tocado e a voz, e como a música atua como narrativa desta cena performática, ou seja, como o texto da música se torna a própria narrativa cênica.

Interações midiáticas entre um programa radiofônico sobre a jovem guarda e a construção da memória de uma coletividade na cidade de pelotas/rs

Paulo C. P. Moysés
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
pcesar.sul@zaz.com.br
Isabel Porto. Nogueira

Professora Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
isanog@terra.com.br

RESUMO: Este artigo pretende a análise de como se processa a perpetuação dos elementos simbólicos identificadores da Jovem Guarda, a partir de um programa de rádio e seu apresentador. O objeto deste estudo será o radialista-cantor Mário Antonio, que comanda há mais de trinta anos um programa radiofônico que se apresenta como representante do movimento da Jovem Guarda. Tendo em vista ser este um programa semanal, veiculado, atualmente, por uma rádio universitária de longo alcance, entendemos que a dimensão e longevidade do programa contribuíram para a criação de um sentido identitário para a comunidade reunida em torno do programa. Aliado à isto, o conceito de espetáculo se instala através da realização periódica do “Baile da Jovem Guarda”, promovido pelo radialista e no qual atua como cantor da “Mario Antonio Band”, que congrega pessoas de toda a região sul do estado do RS em locais de grandes dimensões. Com o mote “está começando o movimento Jovem Guarda, trazendo alegria para o seu domingo”, o programa veicula músicas da época da jovem guarda em gravações originais, congregando, ao mesmo tempo, admiradores do movimento em sua época e ouvintes de gerações posteriores. Entendemos, então, que o programa de Mario Antonio, promove a reunião de uma comunidade do sul do estado do RS em um sentido de grupo. Investigar a contribuição do radialista Mario Antonio e de seu programa para a construção da memória e da identidade social de uma coletividade pelotense torna-se ferramenta importante para compreender a memória como organismo vivo.

Mutações do I-Ching": intersemiose música-física em raízes milenares orientais
Eufrasio Prates
UNB
eufrasioprates@gmail.com

Diversos traços do que se tornou conhecido como o paradigma holonômico podem ser claramente percebidos na música contemporânea, especialmente a partir da metade do século XX. Conceitos como acausalidade, imprevisibilidade, atemporalidade, multidimensionalidade, relatividade, paradoxalidade ou omnijetividade, a maioria deles provenientes do campo da física, são encontrados também na música do pós-guerra, confirmando indicialmente suas qualidades e potentialidades paradigmáticas. Tais conceitos, por sua vez, apresentam diversas similaridades qualisígnico-icônicas com premissas da sabedoria milenar oriental. O presente estudo visa apontar como a conscientização desses conceitos na criação musical pode enriquecer as possibilidades expressivas da música contemporânea e levá-la a inter-relacionar o moderno e o tradicional de uma forma orgânica. Entretanto, para lidar com tais questões no fenômeno musical, é indispensável dispor de "ferramentas" semióticas, capazes de analisar e compreender com rigor, solidez e profundidade as interconexões paradigmáticas citadas. Felizmente, os investigadores da semiótica da música fizeram avançar tais ferramentas o bastante para permitir um grau razoável de confiabilidade nas conclusões de uma pesquisa-ação como a presente. A aplicação destes conceitos na criação musical será demonstrada por meio da análise de uma composição experimental intitulada "Mutations", um grupo livremente ordenável de 64 peças musicais de 1 minuto cada, inspirados nos 64 hexagramas do I-Ching. Além da conexão entre música e física, essa análise permitirá também explorar a relação desses conceitos inovadores a certos traços comuns da milenar e tradicional filosofia oriental.

O bolero na mídia e na paisagem sonora mundial e brasileira.

Bruno Renato Lacerda. Instituto das Artes
Mestrando em Música Unesp
brlac@hotmail.com .

Esse trabalho pretende traçar a relação entre a introdução das mídias na paisagem sonora e o seu papel na propagação do bolero pelo mundo. O período de mudanças na paisagem sonora, advindas pela revolução elétrica, final do século XIX ao início do século XX, foi crucial para expansão do poder das mídias: o rádio, as gravadoras, o cinema, e posteriormente, a televisão contribuíram para o desenvolvimento e projeção do bolero na paisagem sonora mundial e brasileira. Aliás, todo o sucesso que o bolero veio a alcançar jamais teria sido possível sem as mídias. Estas tiveram significante papel na orquestração da paisagem sonora ao longo século XX e dos gêneros musicais. Na medida em que essas formas de mediatização técnica do som se aperfeiçoavam, ocorria, também, uma forte adesão aos novos aparelhos tecnológicos e, com isso, uma grande expansão no domínio do território acústico. As tecnologias foram se desenvolvendo e gradualmente criando um ambiente sonoro totalmente novo. Em paralelo ao processo de desenvolvimento das mídias ocorreu o surgimento e a difusão do bolero na paisagem sonora mundial. Este trabalho procura demonstrar que grande parte das profundas alterações advindas na paisagem sonora ao longo desse período coincide com a propagação das mídias, justamente quando se dá o desenvolvimento do bolero. O estudo desse gênero não pode, portanto, desvincular-se do estudo da paisagem sonora.


A modinha na senda da "humanidade impossível": música e ideologia em meados
do século XVIII.
Prof. Ms. Diósnio Machado Neto
ECA-USP/ Ribeirão Preto
dmneto@eca.usp.br

No Brasil de Dom João V a visão de uma "humanidade impossível", que se formava pela sensação de quebra dos paradigmas da sociedade estamental, estimulou diversas ações para "corrigir" a suposta moral conspurcada da população. A música mediou, então, um trânsito entre as manifestações populares, de onde derivava a burguesia emergente, com os padrões conservadores da elite salvacionista. Assim, a nova classe teve que eliminar a sensualidade corporal típica de suas danças e cantos para que as vias de acesso aos círculos elevados da sociedade colonial não maculassem as normas da moral cristã-aristocrática. O objetivo da comunicação é justamente observar as formas dessa mediação consbstanciada em pauta estética, observando a relação da modinha, gênero que melhor explicitou o fenômeno, com aspectos ideológicos que inoculavam a redenção pelo modelo da mulher casta revitalizando um surto mariológico. Assim surgiu uma poesia de erotismo retraído que reanimava alguns ideais da lírica quinhentista, em que o amor era mitigado pela distância corporal, velado e preso na intimidade do espírito onde o desejo era aplacado pelo juízo. Nessa senda, a modinha negou os gestos fortes dos ritmos afros-descendentes dissimulando a característica erótica pela languidez melódica, consubstanciada na incorporação dos modismos da ópera italiana. na alteração da sensibilidade social, o gênero foi fundamental para sedimentar novos espaços de sociabilização, além do espetáculo litúrgico.

A canção em cena: um olhar sobre as interações entre música popular e meio audiovisual
Eduardo Vicente
CTR/ECA-USP
E_vic2004@yahoo.com.br

A proposta do texto é de oferecer uma aproximação inicial para a discussão da relação entre canção e a produção audiovisual, refletindo brevemente sobre o desenvolvimento do tema no cenário internacional e, mais particularmente, sobre essa articulação no Brasil. Nesse percurso, uma das intenções do texto é refletir sobre o uso não diegético da canção como uma estratégia efetiva de ruptura com a narrativa clássica do cinema e, por outro lado, sobre as estratégias sinérgicas de atuação dos grandes conglomerados e, nesse sentido, sobre os interesse comerciais que também podem estar implicados nesse prática - especialmente no que se refere ao cinema industrial e, no caso brasileiro, às trilhas de telenovelas. Além disso, o texto busca discutir o surgimento de bandas e artistas de grande projeção no mercado fonográfico a partir de produções audiovisuais -especialmente televisivas - como é o caso de bandas como The Monkees, Partridge Family e, no Brasil, das urmas e apresentadores de programas infantis dos anos 8 e 90.

Imagens sonoras dos deuses que dançam – música, mito e movimento nas religiões de orixás.

Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos
IA/UNICAMP
jorgelampa@iar.unicamp.br
RESUMO – Dentre as várias possibilidades de estabelecimento de relações entre sons (musicais ou não) e outras linguagens, as religiões afro-brasileiras chamam a atenção pela intrínseca sutura entre seus múltiplos elementos constitutivos. Música, sons incidentais, cores, vestimentas, adereços, movimento e mesmo paladares concorrem para a construção imagética daqueles que são os principais “personagens” desta manifestação cultural: os orixás. Estas divindades trazidas da África no processo da diáspora negra “materializam-se” no corpo de seus devotos através de cantos, ritmos, coreografias e outros elementos específicos, recriando as narrativas míticas que dão suporte às práticas religiosas. A partir de dados obtidos na pesquisa de campo efetuada para a realização do doutorado em Música, que tem como principal referencial metodológico a etnomusicologia, a proposta deste artigo é discutir como a articulação desses elementos se efetua, num processo análogo ao de outras manifestações e gêneros artísticos. Tem também como objetivo considerar as especificidades do caso estudado, não só por suas características religiosas e de ligação com as narrativas míticas como por sua condição de manifestação da esfera da chamada “cultura popular”. A partir daí, pretende-se sugerir uma “leitura” dos rituais de candomblé queto e outras religiões similares como a da construção de uma “partitura” e de um “libreto”, destacando as particularidades de seus elementos sonoros e daqueles que constituem a base de sua narratividade. Como tal base são os mitos que atualizam a ancestralidade recriando-a nos rituais, a discussão central aqui é, reitero, o processo pelo qual aqueles tornam-se vivos através dos elementos destes, principalmente a música.