2º Encontro de Música
e Mídia:
Resumos das sessões
temáticas.
Trabalhismo, música e mídia sob o
governo Vargas
Adalberto Paranhos
akparanhos@triang.com.br]
Resumo: Jornalistas, historiadores e
cientistas sociais costumeiramente se dão as mãos quando se trata de pôr em
destaque os superpoderes ostentados pela ditadura estado-novista em relação ao
controle da produção musical e ao estímulo ao enaltecimento do trabalho. Seus
estudos tendem a cristalizar uma visão unívoca, que originou ou reforçou muitos
mal-entendidos que cercam o assunto. E, à medida que contribuíram para
superestimar o poder estatal, acabaram por reproduzir, consciente ou
inconscientemente – mesmo que por vias oblíquas –, o próprio discurso oficial
da ideologia do trabalhismo a respeito do caráter uno do Estado, que teria
logrado alcançar um grau de plena identificação entre ele e a nação, ao agir
como o tradutor de seus anseios mais profundos. Com muita freqüência,
sustentou-se que o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) exerceu um
controle absoluto sobre tudo o que se relacionava à música popular. Esta
comunicação se lança na contracorrente dessas análises. Procura enfatizar que
hegemonia não se confunde, de forma alguma, com dominação ou imposição
absoluta, muito menos com uniformização. E, ao romper com a visão tradicional
sobre os caminhos percorridos pelo samba produzido nessa época, recolhe
evidências de que a ditadura estado-novista nem de longe foi inteiramente
bem-sucedida em seu esforço para entronizar uma espécie de “samba de uma nota
só”, voltado para a exaltação do regime e do trabalho. Pelo contrário, outras
notas, outras dicções, outras pronúncias se fizeram ouvir no campo do samba,
dando voz ao coro dos diferentes, por mais que o regime investisse na constituição do coro da
unanimidade nacional.
Os becos da poesia.
Ademir Demarchi
Revista Babel (editor)
Resumo: A poesia no século passado era publicada
em jornais, revistas e livros e, em alguns casos, ganhava também gravação na
própria voz do poeta ou de algum ator famoso, sendo veiculada em discos de
vinil. Desde então muito tem mudado, pois a revolução da informática e dos
equipamentos digitais tem possibilitado novos meios, barateado custos de
equipamentos e permitido a sua manipulação pelos próprios poetas.
Contemporaneamente a poesia deixou de circular em jornais, vive altos e baixos
em revistas impressas sazonais publicadas por poetas e encontrou um campo amplo
na internet, onde assiste-se a experimentações de publicação em blogues, sites
e revistas eletrônicas, apresentando também outra mudança interessante que é a
do crescimento da gravação de CDs pelos próprios poetas e sua apresentação em
espetáculos multimídia”.
Poema -em -música
Annita Costa Malufe
Doutoranda em
annita.costa@terra.com.br]
Resumo: O presente texto é uma
breve apresentação da performance intitulada "poema-em-música". O
artigo busca esboçar alguns pressupostos teóricos, poéticos e composicionais
que norteiam a concepção do projeto, realizado em parceria com o compositor
Silvio Ferraz desde 2004. O “poema-em-música” é uma performance de poemas lidos
(voz) com transformação eletrônica em tempo real (live eletronics) em que dois
campos artísticos, a poesia e a música, se articulam, buscando criar um
terceiro lugar comum.
O
canto e as letras: educação e música sob o compasso dos mestres-de-capela no
Brasil colonial
Diósnio Machado
Neto
ECA-USP
Resumo:
O
binômio “letra e música” como veículo de diálogo com a constituição do saber é
um conceito desenvolvido desde tempos imemoriais. Tanto na concepção do termo
grego mousike, como na sua própria
mitologia ou nos relatos bíblicos, músico e literato se confundiam no exercício
da dramatização da vida e entendimento bipolar que não dissociava razão de
sentimento. Nesse sentido, o mestre-de-música, no decorrer do tempo,
identificou-se como uma das poucas profissões com acesso ao mundo das letras. O
presente texto trata de demonstrar como no universo colonial, através de
práticas consuetudinárias, o mestre-de-capela, e posteriormente o músico sem
provisão eclesiástica, inseriu-se num aspecto pedagógico mais abrangente
atuando como mestre de primeiras letras. Esse processo prevaleceu até mesmo
entrando no século XIX, já que configurava construções de sentidos comunitários
que conduziam a padrões de influência e poder, formas de uso e vias de acesso.
Nesse sentido, o próprio sistema refletiria o jogo da dominância dos discursos,
dos cânones, onde o domínio do mundo letrado estava associado, mais do que
atualmente, ao universo sonoro.
De Poe a
Mozart
Eduardo Seincman
ECA-USP
seincman@uol.com.br
Resumo: A composição (literária ou musical) não pode ser
entendida somente como uma questão de linguagem. É por isso que o importante
ensaio teórico de Edgar Allan Poe denomina-se "Filosofia da
Composição". Ao levantar questões que se referem mais propriamente ao Discurso
das expressões artísticas, sua "filosofia" mostra ser um reflexo e ao
mesmo tempo se reflete em outras áreas do conhecimento: em particular,
constata-se uma mútua imbricação entre literatura e música. O
Discurso diz respeito à maneira pela qual a obra de arte comunica-se com o
público, e assim o fazendo, a técnica da composição já não é, por si só, suficiente:
deve estar à serviço da expressão, levando-se em conta, portanto, os dados de
recepção dos apreciadores. E, como não há recepção sem memória e esquecimento,
é necessário considerar seus importantes papéis.
Série arquivo da palavra do selo
fonográfico discoteca pública municipal (São Paulo, 1936- 1945): Braço de
projetos natimortos, terreno fértil e inexplorado para pesquisas
Evaldo Piccino
Discoteca Oneyda Alvarenga - Centro Cultural São Paulo
Coordenador de Acervo Sonoro
Mestrando em Multimeios – IA/UNICAMP
evaldopshell@hotmail.com
Resumo:
Parte
integrante do projeto de políticas culturais do Departamento de Cultura da
Prefeitura do Município de São Paulo, recém criado por Mário de Andrade, o selo
Discoteca Pública Municipal, pioneiro em lançamentos de Musica Brasileira
erudita, étnica e folclórica em discos de 78 rotações, também lançou em 1937 a
série Arquivo da Palavra , com gravações de interesse filológico e lingüístico.
A série era dividida em dois sub-ramos: Homens ilustres do Brasil, registrsu da
voz de pessoas do cenário artístico e intelectual do Brasil (como Lasar Segall
e José de Alcântara Machado); e Pronúncias Regionais do Brasil, visando um
estudo comparativo das dicções das diversas regiões do país. Com texto padrão
elaborado por Manuel Bandeira e Nicanor Nascentes, as gravações do sub-ramo
Pronúncias Regionais do Brasil foram apresentadas no I Congresso da Língua
Nacional Cantada (São Paulo, 1937) e comporiam o Museu da Palavra da
Discoteca.. Ao contrário das outras séries do selo: Folclore Musical Brasileiro
e Música Erudita Brasileira, que recentemente foram retomadas como relançamento
do selo Fonográfico da Discoteca, em parcerias com a Petrobras e o SESC e
geraram inúmeras pesquisas, a série Arquivo da Palavra não foi nem relançada
nem devidamente estudada, seja do ponto de vista lingüístico, fonográfico ou
político-cultural. O mesmo ocorreu com o Congresso da Língua Cantada, que
sequer teve realizada sua segunda edição e outros projetos do Departamento,
como a Sociedade de Etnografia e Folclore e a Rádio-Escola. O objetivo da
Comunicação é apresentar a série como terreno fértil e inexplorado para
pesquisas
'Literatura e Hiper-Modernidade: de Edgar Allan Poe a Gilles Deleuze'
Flávio Viegas
Amoreira
''Literatura do Estilhaço: Linguagem e
hipermodernidade; Manifesto-Tese
apresentando aspectos contemporâneos da escritura e
intertextualidades nos limites pós-modernos. Geração 00: Poesia, Prosa e 'Proesia'.''
As várias vozes da voz: sobre o experimentalismo na obra de Gilberto
Mendes
Heloísa
de Araújo Duarte Valente
Instituto
de Artes/ Unesp
A presente comunicação pretende apontar, através da
obra experimental vocal do compositor Gilberto Mendes, a incorporação de
elementos voco-performáticos, ruídos originariamente não-musicais e outros,
como conseqüência da implantação de uma paisagem sonora, estética e musical,
que somente teria surgido na segunda metade do século XX. Para tanto, a
abordagem se apoiará em conceitos de Paul Zumthor, R. Murray Schafer, além de
depoimentos do próprio compositor.
Varoli e Tonelo: dois compositores
da região do ABC paulista nos anos 1950 e 1960
Herom Vargas
Universidade Municipal de São
Caetano do Sul – IMES
Vilma Lemos
Universidade Municipal de São
Caetano do Sul – IMES
Resumo:
Sambas-canções,
boleros, tangos e valsas, em sua maioria gêneros de temática romântica, tiveram
grande preferência entre a população brasileira na primeira metade do século
XX, sobretudo na década de 1950, em sintonia com a última fase da chamada Era
do Rádio. No Grande ABC paulista não foi diferente. As quatro emissoras que
surgiram na região a partir de 1953 (Rádio Clube e Rádio Emissora ABC – atual
Rádio ABC – ambas de Santo André, fundadas em 1953, Rádio Independência, de São
Bernardo do Campo, criada em 1957, e a Rádio Cacique, colocada no ar em 1958,
com sede
Da sublimação do
imaginário social à potência musical: algumas notas sobre a Relação
texto-sonoridade no glam rock de David Bowie
Leonardo Aldrovandi
Faculdade de Ciências Humanas –
FUMEC
Resumo:
Este
texto pretende ser um ponta-pé inicial de uma série de reflexões sobre a
produção do que se convencionou chamar de glitter
ou glam rock, partindo do conhecido
imaginário visual, musical e narrativo de um de seus principais participantes,
o popstar David Bowie. Procuraremos
associar este imaginário a um patamar menos investigado: a força de expressão
social e multi-sensorial provocada por esta música na primeira metade da década
de setenta, tendo por base o pensamento sobre a relação entre a sonoridade das
canções e suas letras.
En
defensa del texto. una propuesta para el análisis musicológico.
Liliana Casanella Cué.
Filóloga;
especialista en el Centro de Investigación y Desarrollo de la Música
Cubana.
Resumen: Este trabajo pretende llamar la
atención sobre las amplias posibilidades que el análisis del texto lingüístico
aporta a la investigación musical. A partir de estudios concretos de textos
pertenecientes a diversos géneros de la música cubana se abordan diferentes
modos de acercamiento a la relación texto-letra/ texto-música, más allá de un
enfoque puramente formal. La propuesta asume la premisa de que el estudio de
los textos, en su sentido más amplio, permite abarcar no solo el enfoque
estrictamente lingüístico y literario del discurso en pos de una siempre
cuestionable valoración cualitativa, sino que extiende sus juicios a elementos
sociológicos, etnológicos y de otras disciplinas afines, que aportan una
inestimable información, siempre en interacción con la música. El
desconocimiento de los códigos que diferencian los textos musicales de los
musicalizados, sí como la insuficiente
explotación de las potencialidades que, desde el punto de vista culturológico y
sociológico, propician el análisis de marras, ocasionan una valoración
tergiversada del discurso lingüístico-musical y por tanto, afectan la recepción
de la obra aún cuando esto no ocurra estrictamente desde el punto de vista
musical. De ello son ejemplo diversos enfoques acerca de los textos de la
música popular bailable, en comparación con géneros cancionísticos, así como
los que abordan la música campesina, cuya estrofa identitaria es la décima
espinela. Las investigaciones acerca de los vínculos entre letra y música desde
este punto de vista resultan insuficientes, pues predominan aquellas que
defienden el enfoque semiótico y semiológico, así como el de la aplicación de
los principios de la lingüística generativa y estructural.
Vozes e ritos - as oralidade no mundo
Magda Dourado Pucci
Pós-graduanda em Ciências
Sociais - Antropologia - PUC- SP
Resumo: Ao nos referirmos à voz, falamos em timbres, tons,
línguas, entonações, respirações, melos (melodia), ritmos, versos, narrativas, dialetos, poemas,
prosódia, ritos, expressões, coros, corpo, movimentos, pulsações, gestos,
performances. E, com isso, rapidamente adentramos o universo dos mitos e dos
ritos permeadas pela oralidade, o universo das sonoridades e musicalidades,
sempre plurais. Neste trabalho,
pretendo destacar a riqueza dos diferentes registros e timbres vocais presentes
em diferentes tradições orais do mundo. Narradores e cantores da África, da
Ásia, do Mediterrâneo, da Europa, das Américas, assim como os índios
brasileiros, exercem há milênios a arte de narrar histórias e cantar,
explorando diferentes nuances da voz. Proponho um mergulho nessas vocalidades,
relacionando-as a aspectos religiosos, cosmológicos, comportamentais de modo a
compreender mais profundamente esse fenômeno sonoro. Com uma abordagem
etnomusicológica - resultante da mescla entre Musicologia e Antropologia -
busco perceber como essas oralidades diversas se multiplicam, como elas estão
presentes na musicalidade e como elas se conectam de diferentes maneiras,
expressando imaginários complexos.
Os espaços da performance musical
Márcia Halluli Menneh
Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente do
Município de São Paulo/ SVMA/DEPAVE ; UniSantos
Resumo:
O
texto discute as características físico-ambientais de espaços livres, públicos
ou não, que vem sendo apropriados (ou que foram projetados) para abrigar
apresentações musicais ao ar livre, de porte diferenciado, acolhendo os diversos gêneros musicais. Essas
apresentações alteram a paisagem dos
lugares onde acontecem, qualificando e alterando nossa percepção da paisagem As
apresentações artísticas ao ar livre (em especial as musicais) assumem
importância na configuração da paisagem urbana e tem impacto significativo na
vida cotidiana. O espaço livre público é (por definição) acessível a qualquer
um, de forma que é propício para reunir
os cidadãos urbanos para diversos fins. Mesmo no caso das apresentações ao ar
livre em locais de acesso restrito, devemos lembrar que, na maior parte dos
casos, o som ultrapassa os limites físicos do espaço em questão, atingindo
transeuntes e habitantes do entorno. Pelas
suas características democráticas, as apresentações ao ar livre foram
incorporadas às políticas públicas municipais e, muitas delas, contam com
apoio/patrocínio de diversas empresas face seu alcance e apelo popular
(divulgação/midia). São, também, utilizadas em diversos eventos políticos. O
presente trabalho tem por objetivo a identificação destes espaços, relacionando
suas vocações e uso, bem como os elementos que geram a configuração paisagística propícia para tais fins.
O
erotismo sagrado de Chico Buarque – uma breve leitura da canção Sobre todas as coisas.
Márcio
Ronei Cravo Soares
Mestrando
em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais
contato: marcioronei@yahoo.com.br
Resumo : Propõe-se realizar uma análise interpretativa da canção “Sobre todas
as coisas”, de Edu Lobo e Chico Buarque, considerando-se gravação feita por
Chico Buarque no disco Paratodos, de
1993. Para a análise, é imprescindível perceber os textos verbal e musical como
partes constituintes de uma mesma unidade, estando, letra e música, em uma
relação dialógica, responsável por manter correspondências fundamentais para
que seja possível compreender, de modo amplo, o(s) discursos(s) presentes na
canção citada. Devem ser considerados, também, aspectos interpretativos do
canto de Chico Buarque, bem como traços estilísticos da instrumentação usada na
gravação.
Voz e Performance na Música de
Luciano Berio
Marcos Júlio
Sergl
IA/ UNESP; USJT
Resumo:
A poesia no século XX deixa de ser pensada
dentro de seus próprios preceitos, uma vez que podemos descobrir poesia na
prosa. A palavra poética liberta-se para dar vazão a novas dimensões
expressivas. A possibilidade de resultados infinitos exige uma leitura
consciente. Para tanto se faz necessário direcionar todos os sentidos para
apreender e consumar o objeto estético, resultando numa completa unidade de
nosso ser, de nossa consciência: uma adesão criativa. A música no século XX
também se liberta de seus parâmetros pré-estabelecidos pela cultura ocidental.
A partir do surgimento da música dita atonal, o papel da melodia,
particularmente no que concerne ao emprego da voz, é sensivelmente atenuado, ou
mesmo completamente anulado face ao interesse crescente pelas articulações
verbais muito diferenciadas. Dessa forma, materiais verbais em sua
integralidade e entonação musical se reencontram curiosamente na música
contemporânea – notadamente após o surgimento da música eletroacústica e o
desenvolvimento acentuado dos estudos da fonética e da fonologia – em um
contexto propício à supressão de toda oposição, enquanto origem presumidamente
comum. Analisamos a obra musical de Luciano Berio, compositor italiano, que
busca realizar a interface entre poesia e música, pensadas como relação de
continuidade e integração, como fronteiras nas quais a passagem de uma para
outra nem seja notada, uma nova relação entre palavra e som. Desse ponto de
vista, a obra de Berio constitui um exemplo singular de toda sua geração de uma
tomada de consciência radical de retorno à origem da música enquanto entonação
da palavra, a voz identificada historicamente com a inflexão melódica. Nesse sentido, a melodia ganha
seu lugar na obra de Berio, mas ela se apresenta como um dado da história, uma
incursão crítica, ou bem, como uma epifania (lírica e às vezes dramática) do
gesto vocal associado ao passado; em todo caso como uma das facetas, entre
outras tantas, de manifestação vocal.
Letra, Voz e Memória: À Escuta do Fado
Mônica Rebecca Ferrari Nunes - FAAP
/ UNIFAI
nunes.aureli@uol.com.br
Resumo:: Este trabalho
apresenta os resultados parciais da Pesquisa que desenvolvo, junto ao Musimid,
destinada a refletir sobre a memória gerada pelos tempos da escuta do fado
entre imigrantes portugueses em Santos. Com base na teoria semiótica da
cultura, representada por Iúri Lotman,
Bóris Uspenskii, Jerusa Pires Ferreira, e também fundamentada nos
estudos sobre Memória e Mídia (Zumthor,; Halbwachs; Yates; Nunes) , a presente
reflexão analisa as tramas da memória, que por meio do tempo da escuta de vozes
performáticas, podem ser acionadas por certos temas que percorrem fados que
entoam espaços, personagens, ofícios e tradições. Letra e voz criam liames para
as representações de mundos deixados para trás: bairros, ruas, amigos das
farras, amores, personagens cotidianos. Deslocar-se da terra natal é também
romper vínculos com afetos, espaços e tempos compartilhados, ainda que este
deslocamento possa ser provisório, uma vez que o imigrante, diferentemente do
exilado, voltará sempre que quiser ou puder. A memória do espaço se amplia nos
vestígios dos materiais e objetos cantados, já longínquos do imigrante que
escuta o fado. Se partir é morrer um
pouco, como canta o fadista Carlos do Carmo, a permanência e a escuta de
tais canções podem significar a superação simbólica da morte, das perdas que as
rupturas instalam e, por seu turno, assegurar, por meio da memória, a
re-semantização destes territórios esvaziados pela distância.
Devir-Rádio
/ Devir-Música:
o
rádio contrapontístico de Glenn Gould em análise
Rodrigo Manzano
Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
Faculdade de Comunicação Social
(UniFIAMFAAM, SP)
Resumo: Este trabalho apresenta, analisa e contextualiza a Solitude Trilogy, série de documentários
radiofônicos produzida pelo músico, pianista e compositor canadense Glenn Gould
(1932-1982). Os três documentários – “The Idea of North” (1967), “The
Latecomers” (1969) e “The Quiet in the Land” (1977), transmitidos pela emissora
canadense CBC – representam, no âmbito dos estudos de linguagem, a intersecção
entre os suportes massivos de comunicação e a arte sônica, visto que o
princípio de edição desses programas documentais fundamentava-se na abordagem
da sintaxe radiofônica a partir de critérios musicais, postulando o que Gould
denominou “rádio como música” e “rádio contrapontístico”, percepção notadamente
influenciada pela obra de J. S. Bach (1685-1750), compositor bastante executado
por Gould em sua carreira pianística. O contexto metodológico desta pesquisa
considera que seja necessária uma reflexão sobre o papel estético do rádio
contemporâneo, ressaltando o caráter figurativo/representativo da fala
radiofônica em detrimento de princípios estéticos mais articulados às
sonoridades. Operaram como base para uma crítica da linguagem radiofônica
vigente os conceitos desenvolvidos por Gilles Deleuze e Felix Guattari de
“palavra de ordem” e de “devir”. Esta comunicação é um excerto das conclusões
de pesquisa desenvolvida no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e
Semiótica, da PUC-SP, entre os anos de 2004 e 2006.
“Refazendo a Refazenda”: diálogos com
Gilberto Gil em dois momentos de intervenção social de Ana Maria Machado
Susanna Ventura MusiMid e Universidade de S. Paulo)
Resumo:
A
presente comunicação debruça-se sobre dois momentos do diálogo da escritora
brasileira Ana Maria Machado com a obra, o artista e o cidadão Gilberto Gil. Na
obra da escritora existe um forte diálogo com a Música Popular Brasileira.
Tomamos como primeiro momento de diálogo com Gilberto Gil o romance Tropical sol da liberdade, publicado em
1988. O segundo, momento de diálogo, em contraponto ao primeiro, tomamos da
intervenção “Carta ao ministro”, publicada pela autora na imprensa brasileira
em 2004.
Pedro Páramo: los rumores del
sonido”
Dra. Susana González
Facultad de
Filosofía y Letras, UNAM
Tomando por base conceitos de Murray Schafer e Paul
Zumthor, o texto pretende abordar alguns aspectos relativos às paisagens
sonoras expostas na obra de Juan Rulfo: paisagens sonoras evocadas pelos
próprios elementos da narrativa, além da construção de paisagens sonoras
internas à linguagem literária.
Uma analogia entre linguagem verbal e
linguagem musical
Tânia Maria Silva Rêgo
Diretora da Escola de Música do
Estado do Maranhão - Lilah Lisboa de Araújo.
e-mail: taniarego2@yahoo.com.br
Resumo: A posse da
linguagem é o que mais claramente distingue o homem dos outros animais. Uma
grande parte de lingüistas aponta que a fala é historicamente anterior à
escrita. A psicanálise freudiana e de seus seguidores, tece importantes
conceitos desse imbricado novelo de: signo/significante/significado e o poder
simbólico da palavra evocar o que está ausente, dizer e não dizer ou mesmo
criar, inventar e reinventar. Nesse sentido, estar diante de uma linguagem é
estar diante de uma transcendência. Uma primeira aproximação entre a linguagem
verbal e musical dá-se pela constatação delas serem linguagens sonoras. O som e
suas variações rítmicas são a base fundamental de suas complexidades. A gênese
canto-palavra (surgindo juntas como forma de expressão) é demonstrada nos
cantos guerreiros, cantos de trabalho, cantos festivos e demais ritos sociais.
A música, na maioria das vezes desempenha um papel social/mágico e não
necessariamente estético. No entanto esse encontro, na maioria das vezes
simbiótico, apresenta paradoxos ao longo do percurso histórico. Diante da
impossibilidade de aplicar um conceito indistintamente a fenômenos tão diversos
na música (ritos primitivos, monodia, polifonia, etc.) e na linguagem verbal (
atos de alertar, de informar, etc.). Fez-se um recorte, adotando como eixo
central desta comunicação a música popular brasileira urbana, tonal, da década
de 50 do século XX e a poesia. Schurmann*, ao verificar os procedimentos nas estruturas tonais,
reconhece uma surpreendente analogia com aqueles das estruturas próprias à
linguagem poética. . Observando todas as analogias e coincidências tratadas,
percebemos que as especificidades da música e da poesia são irredutíveis; é
possível chegar-se ao máximo da aproximação, esmiúça-las, mas não entendê-las
como unidade, como uma fusão. Ambas se relacionam de uma forma quase didática,
relação de complementação explicativa, facilitando e contribuindo para uma
transformação social onde o ouvinte/interprete crie e recrie.
Análise prosódica como ferramenta de interpretação da
canção: um enfoque sobre a questão do “núcleo de identidade” da canção popular
Prof. Wladimir Mattos (FASM)
wlad_mattos@yahoo.com.br
Resumo:
No
contexto dos diversos gêneros de música popular, ao nos referirmos a uma canção
enquanto objeto de interpretação musical, sobretudo, quando ela está ausente no
ato da referência (quer por intermédio de uma execução “ao vivo”, da reprodução
de uma mídia gravada ou de uma partitura), compartilhamos com nossos
interlocutores, quando muito, uma concepção aproximada do que se reconhece como
o “núcleo de identidade” desta canção. É, portanto, a partir deste senso comum,
com maior ou menor grau de convergência, que se estabelecem as interações
musicais nas situações de ensino/aprendizagem e performance/apreciação, entre
outros processos interpretativos. A partir de um modelo analítico inicialmente
proposto para o tratamento das tensões acentuais do ritmo prosódico entre
componentes melódicos verbais e musicais, chamamos a atenção para as possíveis
contribuições desta prática analítica na identificação das características que
permitiriam a um grupo de interlocutores o compartilhamento de noções das mais
gerais às mais particulares sobre os diferentes níveis de percepção dos
parâmetros elementares que constituem a canção. Finalmente, ao observarmos o
alto grau de liberdade interpretativa que caracteriza as diversas tradições da
música popular brasileira, destacamos a validade instrumental de procedimentos
analíticos como o que propomos, sem os quais, ao nos referirmos a uma mesma
música, corremos o risco de não alcançarmos um nível de fruição dos seus
detalhes, ou até mesmo, de nos referirmos às
músicas completamente diferentes.