domingo, 16 de setembro de 2012

8º Encontro: RESUMOS





A migração da música experimental para o ciberespaço: uma pesquisa etnográfica nas comunidades virtuais de música
Ramiro Galas
ramiro.galas@gmail.com

Atualmente, autores e ouvintes de “música experimental” tem utilizado a rede social de música Soundcloud para dar suporte as comunidades virtuais que circulam suas produções. A etnografia virtual (Hine 2000) e outros trabalhos relacionados às práticas musicais presentes no ciberespaço (Caroso 2009, Amaral 2009, Garrido 2005) embasam esta pesquisa que objetiva investigar de que forma o conceito “experimental” é entendido pelos usuários dessa rede social. Utilizando como corpus os textos presentes nas comunidades dentro dessa rede, apreende-se o que é “experimental” nesse contexto e relaciona-o a esse conceito na academia (Nyman 2009). Como conclusão, observa-se uma distância entre a acepção do termo na academia – escritos teórico-musicais – e a presente nos textos disponibilizados pelos usuários dessas comunidades virtuais. Nestas, por exemplo, a ideia de “música como processo” (Cage 2004) fica esquecida. E aquele movimento de constante reflexão sobre o que é uma obra musical, nesse novo local, dá espaço para um conceito de experimental mais relacionado como algo diferente, novo; definido como um subgênero ou uma classificação para criações musicais que não se encaixam bem nos gêneros hoje consolidados.

Palavras-chave: música experimental, ciberespaço, redes sociais, etnografia virtual



A música dos outros na nossa música: Uma abordagem analítico-musical sobre obras de Bartók, Stravinsky e Villa-Lobos
Júlia Zanlorenzi Tygel
jutygel@gmail.com
                   
Este artigo é um recorte de pesquisa de doutorado em andamento junto ao Programa de Pós-Graduação em Música da ECA/USP sob orientação do Prof. Dr. Marcos Lacerda, com financiamento CAPES, parcialmente desenvolvida junto à City University of New York sob orientação do Prof. Dr. Joseph Straus, com financiamento CAPES-Fulbright. Ele tece considerações sobre processos de interpretação do outro através da música protagonizados por compositores da chamada música erudita, pontualmente Bartók, Villa-Lobos e Stravinsky. Embora inúmeros compositores tenham trabalhado com temas de repertórios de culturas tradicionais na história da música, foi no século XX, com os encontros culturais provocados pela globalização e os movimentos nacionalistas, que essa prática tornou-se mais freqüente e ganhou maior conotação política.



A música do Shabat em Recife
Keila Souza Fernandes da Cunha
keilapitica@yahoo.com.br

O tema transversal deste estudo de caso é o repertório musical do Cabalat Shabat transterritorializado para Recife. Trata-se de um dos três rituais celebrados pelos judeus nos dias reservados para o descanso e rezas, onde as canções/orações ainda podem ser ouvidas nas sinagogas locais. A pesquisa de campo recolheu dados na Sinagoga Isaac Shachnick, do Centro Israelita de Pernambuco (CIP), e no Museu Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga do Brasil, onde hoje sedia o Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, mas onde são preservadas, esporadicamente, as cerimônias do Shabat. Levando em conta a perspectiva etnomusicológica, o trabalho pretende compreender a música enquanto comportamento cultural e verificar o papel dessa prática religiosa para os seus adeptos, tentando situar a música no seu contexto sociocultural. Segundo informações de campo, constam aproximadamente cem (100) praticantes do Shabat, o que representa 10% da comunidade judaica em Recife. Além de registrar o repertório principal cantado em duas sinagogas locais, a abordagem compreende desde a construção histórica do grupo social em questão, passando pelas negociações da permanência e adaptação dos traços culturais, sobretudo musicais, até alcançar a reflexão sobre a relevância de tal tradição religiosa. Confirmada a relação intrínseca entre a música shabática e a identidade judaica, que ajudam a garantir a estabilidade ética e coesão social do grupo étnico, o estudo pretende contribuir, também, para as discussões sobre etnicidade e comportamento cultural dos imigrantes, atingindo um espectro mais amplo, como o das Ciências Sociais.

Palavras-chave: comunidade judaica, repertório Shabat, etnicidade e imigrantes.



Análise das canções “Saudosa Maloca” e “Abrigo de vagabundos”, de Adoniran Barbosa
Carlos Vinicius Veneziani dos Santos
vinivs@gmail.com

A pesquisa analisa as canções "Saudosa Maloca" e "Abrigo de vagabundos", do compositor paulista Adoniran Barbosa, com os recursos teóricos da semiótica da canção, campo de estudo fundamentado nas contribuições de Luiz Tatit a partir dos trabalhos paradigmáticos de Greimas e Zilberberg. Aproveitando a análise da letra de "Saudosa Maloca" na obra de Luiz Tatit, Análise semiótica através das letras, são descritos e comparados os recursos narrativos e figurativos utilizados na construção verbal de ambas as canções, com foco nos elementos que indicam a intertextualidade da produção e a noção de transformação das competências do sujeito, se considerada a continuidade da narrativa de uma canção para a outra. Na análise da melodia das letras, são descritos e comparados os elementos que indicam a preponderância dos procedimentos de figurativização, como dominante, e da passionalização, como recessivo, com foco na citação intertextual de frases melódicas como recurso adicional de identificação entre os atores no plano narrativo das duas canções. A análise permite localizar e delimitar a função dos recursos verbais e não verbais que constroem, na audição das canções, a noção de continuidade narrativa, e compreender de que forma esses recursos incorporam-se a um modo de compor sambas característico de Adoniran Barbosa. Permite, ainda, identificar vozes sociais diferentes que, em cada canção, associam-se a uma maior aproximação ou distanciamento da ordem social vigente reconhecida pelo sujeito e às possibilidades de adaptação do mesmo a essa condição.

Palavras-chave: semiótica, canção, linguística



A Paisagem Sonora do século XXI: sons e músicas como elementos incômodos ou abstraídos
Antonio Deusany de Carvalho Junior, Ana Lucia Gaborim Moreira
dj@ime.usp.br, anaemarcelo440@gmail.com

Tendo como referencial a experiência do compositor canadense Murray Schafer e seus escritos acerca da paisagem sonora, realizados no Canadá e Europa nas décadas de 60-70, procurou-se elaborar um paralelo que levasse à construção de um panorama da atual paisagem sonora e musical no Brasil, aprofundando estudos realizados nas áreas de Música e Mídia, Tecnologia e Educação Musical. Schafer procurou relatar a evolução da paisagem sonora desde o mundo antigo até o século XX em seu livro “A afinação do mundo” (SCHAFER, 2011). Já no século XXI, é possível perceber que a paisagem sonora está drasticamente diferente, com a incorporação de telefones celulares, CDs, DVDs e outros aparelhos eletrônicos lançados com os avanços tecnológicos. Pesquisas mais recentes retratam a paisagem sonora a partir de estudos no meio urbano (GENTILE, 2007; SANTOS, 2002), ou verificam a correlação do meio urbano sonoro com o musical (SANTOS, 2011). Nesta comunicação busca-se refletir sobre a mais contemporânea concepção de escuta e abordar as consequências dessa paisagem sonora no meio ambiente cotidiano – ramo da Ecologia Acústica (FONTERRADA, 2004). Avaliou-se a paisagem sonora e musical atual a partir de opiniões pessoais coletadas através de novos meios de informação, angariando dados por um questionário online, divulgado principalmente em Redes Sociais. Com um domínio de colaboradores qualificados como professores ou estudantes universitários, a análise dos dados mostraram os sons e ruídos do cotidiano como elementos incômodos ou abstraídos, e que a “canção da mídia” (VALENTE, 2004) de certa forma não permanecem vivas na memória.

Palavras-chave: paisagem sonora; Murray Schafer; ruído; música; mídia



A prática musical de “tradição alemã” no “pé” da Serra Gaúcha: Um estudo a partir do encontro de coros
Suelen Scholl Matter
suelenscholl@hotmail.com

O “pé” da Serra Gaúcha compreende os municípios iniciais da serra gaúcha na direção São Leopoldo – Gramado. Dentro deste espaço a prática musical de canto coral praticada pelas comunidades teuto-brasileiras católicas estabelece redes de circulação e de construção identitária como resultado de um processo que contribui para a atualização da cultura e da música. Considerando que a prática musical de canto coral possui um papel fundamental nestas comunidades e, observando a configuração de espaços de circulação e de construção identitária a partir do movimento de encontro de coros que acontece nas igrejas católicas, esta pesquisa em andamento tem por objetivo identificar os processos que mobilizam estes encontros de grupos corais teuto-brasileiros católicos na região. Nesta comunicação, a história da imigração alemã local, a herança cultural alemã e a performance são estudados visando identificar as faces desta prática musical.



Araribóia Rock X Ponte Plural: Táticas e história comparadas do mundo artístico fluminense
Nilton Silva Jardim Jr
niltonjardimjunior@gmail.com

a) justificativa; Apesar de sua inquestionável vocação cultural, a cena cultural fluminense independente não obteve a devida atenção da historiografia. b) objetivos; Aferir até que ponto o posicionamento político dos coletivos pesquisados pode ter afetado seu crescimento na cena independente. c) marco teórico; Pretendemos usar como conceitos-chaves as ideias de mundo artístico de Howard Becker, e tática e estratégia de Michel de Certeau. d) metodologia; Pretendo mesclar metodologia de história oral e de observação participativa, com metodologia de análise de documentos na internet, realizando entrevistas com os membros dos coletivos, acompanhamento de atualizações de seu respectivos sites; além de participar dos eventos trazendo bandas para tocar nos mesmos ou realizando coberturas para o meu site www.cacofonia.tk. e) resultados. A pesquisa ainda não apresenta resultados. Porém, uma observação preliminar me levou a levantar as seguintes hipóteses: a- Ao politizar e se posicionar contra a atual administração da prefeitura, o Movimento Araribóia Rock não só terá alguns entraves às suas atividades, como se concentrará muito mais na cena independente da área de Niterói e adjacências. b- Após o rompimento com o Movimento Araribóia Rock e firmar aliança com os participantes do coletivo “Fora do Eixo”, os participantes do coletivo “Ponte Plural” se tornaram partes de uma “engrenagem” nacional, ganhando mais notoriedade, mas, em contrapartida, perdendo também um pouco da sua identidade.

Palavras-chave: Rock independente, Música Urbana, Movimentos culturais



A Resignificação da Canção “Romance de uma Caveira” de Alvarenga e Ranchinho
Carlos Gregório dos Santos Gianelli
gianelli.87@hotmail.com

O presente trabalho tem como objetivo discutir a resignificação da canção “Romance de uma Caveira” quando gravada ou executada por outros artistas. Ele analisará não somente as versões feitas dessa mesma composição, mas também a gravação original da canção por Alvarenga e Ranchinho. Essa análise se justifica dentro das discussões de música e história ao mostrar o lugar diferente que ela ocupa dentro da produção musical sertaneja. A metodologia consistirá em uma análise da canção em vários parâmetros.A temática da canção não segue a tendência da música sertaneja que poderia falar da vida do homem do campo, ou dos desafios encontrados pelo caipira quando chega a cidade grande. A seresta composta em meados dos anos de 1940 pela dupla Alvarenga e Ranchinho, e por Chiquinho Sales fala de um triângulo amoroso envolvendo duas caveiras e um “defunto fresco” que acabara de chegar ao cemitério. O caráter cômico da letra e da performance da dupla Alvarenga e Ranchinho é outro fator de destaque. Artistas como a dupla Kraunus Sang e Maestro Plestkaya (Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky), do espetáculo “Tangos e Tragédias” de Porto Alegre, ou o violeiro e contador de causos campinense Paulo Freire, também utilizam desse viés do humor em suas performances.



“As Gotas de Chuva do Telhado...”: Música de Ryûkyû em São Paulo
Alice Lumi Satomi
alicelumis@gmail.com

Dados recolhidos em pesquisa sobre a música okinawana, entre 1996 e 1998. na Grande São Paulo, onde constam 16 endereços da AOKB Associação Okinawa Kenjin do Brasil. As performances e ensaios foram observados na sede central, no bairro da Liberdade, em Diadema, e nas filiais em V. Carrão e Casa Verde. O alaúde sanshin, ou “jabisen”, tem sua presença registrada desde o legendário Kasato Maru, primeiro navio da imigração japonesa, em 1908. A decepção na fase de estabelecimento rural é ilustrada por uma paródia, outro costume transterritorializado. As associações musicais são responsáveis pela continuidade no período atual urbanom onde observou-se a compartimentalização das gerações e gêneros dedicando-se à um repertório específico: os issei à música da corte koten, os homens tocando sanshin e as mulheres, koto; os nisei, à tradição rural minyô; e os jovens ao tambor taiko, ou dança, modernizada. Observa-se o papel enculturativo da música e os patamares de integração social. A música vernacular é vista como importante elemento de etnicidade desde a terra nativa. Ela contribui na manutenção do idioma e religião de culto aos ancestrais que, por sua vez, são responsáveis pelo alto grau de coesão desde o âmbito familiar até o da comunidade dessa minoria da minoria, resistindo e preservando uma cultura que tem como símbolo um instrumento musical: o sanshin.

Palavras-chave: transterritorialização; música das minorias étnicas; repertório nikkey



As Transformações da Escuta a Partir da Utilização de Mídias Portáteis
Otávio Santos
otavioluis.santos@hotmail.com

Com o passar dos anos, o hábito da escuta musical passou por diversas transformações, sempre relacionadas a tendências sociais e inovações tecnológicas. No início do século XX, mais especificamente a partir da Revolução Industrial, a relação homem-máquina-escuta se elevou a um novo patamar. Não só novos hábitos de escuta se desenvolveram, mas também novas mídias de gravação e reprodução sonora. No que tange a escuta musical, diferentes abordagens foram propostas, acerca da busca pela maneira mais apropriada de se escutar, ou seja, de como tirar o melhor proveito possível do que se escuta. Este trabalho aborda a reflexão proposta por diversos pesquisadores como Theodor Adorno, Rose Subotnik, Peter Szendy, Barry Truax e Ola Stockfelt, sendo este último a referência central da pesquisa, juntamente com apontamentos e reflexões propostas pela pesquisadora Heloísa Valente. A partir de extensa pesquisa e discussão bibliográfica, a presente dissertação tem como objetivo refletir sobre a possibilidade dessas novas maneiras de se ouvir gerarem comportamentos musicais e sociais diferenciados. Assim, discorreremos sobre a atual situação da escuta musical mediada pela utilização de mídias portáteis (celulares, ipod e mp3 player), apontando algumas das consequências musico-sociais geradas por esta prática de escuta portátil. Além disso, pretende-se também fornecer um novo material como fonte para pesquisas relacionadas ao tema, uma vez que ainda são relativamente escassos os estudos específicos sobre os impactos das mídias portáteis na escuta musical. Como resultado parcial, percebem-se duas consequências iniciais: a fragmentação e a individualização. A primeira se refere ao processo de separação de trechos musicais individuais (como a introdução de uma canção utilizada como toque de um aparelho celular), podendo isto ser um reflexo de uma fragmentação social (modismos passageiros). A individualização abarca o “isolamento” do passeante com seus fones de ouvido, que se fecha a qualquer tipo de interação social.

Palavras-chave: escuta; mídia; portabilidade, tecnologia; cibercultura



Autenticidade e hibridismo: o condicionamento das vozes globais
Michel Nicolau Netto
michelnicolau@gmail.com

A World Music se baseia na valorização da diferença. Contudo, é necessário que compreendamos a diferença como uma construção histórica e social e, portanto, que investiguemos seus significados e suas implicações em referência a cada objeto e contexto. Propomos que, no caso da World Music, os índices privilegiados da definição da diferença são o local e a etnia. Visto dessa forma, podemos entender a autenticidade como a condição “legítima” para que peças musicais do mercado de World Music sejam diferenciadas discursivamente em relação àqueles índices. Mas precisamos problematizar melhor a autenticidade, pois essa fora relacionada, especialmente no século XIX, com a noção de pureza que, por si, se contrapõe ao hibridismo. Na World Music, contudo, autenticidade e hibridismo não são termos antagônicos, mas simultaneamente usados na afirmação da diferença. Propomos explorar essa relação tendo como base os discursos de artistas que já se apresentaram na feira Womex, a maior do mercado de World Music. A partir dessa análise, poderemos notar que a relação entre autenticidade e hibridismo se dá na composição necessária entre artistas e estruturas tidas como ocidentais (carregadas pelo que chamamos de capital de confiança) e não-ocidentais (que carregam valor de diferenciação, segundo vamos propor). Nessa articulação, artistas de diversas partes do mundo assumem espaço no mercado, algo que não faziam anteriormente. No entanto se encontram nele condicionados à própria diferença.

Palavras-chave: World Music, autenticidade, hibridismo, diferença, diversidade



Carlos Gardel enquanto monumento em disputa: Identidade Rio-platense e Invenção das Tradições do Tango
Eliza Bachega Casadei, Rafael Duarte Oliveira Venancio
elizacasadei@yahoo.com.br

Dono de uma biografia misteriosa, Carlos Gardel parece ser o nome certo para ser o símbolo de um gênero musical e dançante com origens mais misteriosas ainda, o tango. O presente artigo busca observar o papel da memória de Gardel enquanto um monumento, seguindo as ideias de Nora (1996), em disputa entre argentinos e uruguaios (fato bem representado pela questão do local do nascimento de Gardel), formando a conflitante identidade rio-platense e sua centralidade encontrada no tango. Nesse jogo do uso social da memória – bem delineado pelo arcabouço ricoeuriano utilizado nesta análise –, é possível descrever um processo bem ativo de “invenção de tradições” (HOBSBAWN & RANGER, 2006) que até hoje é trabalhado pelas práticas culturais e midiáticas desses países. Um exemplo bem posto disso foi o uso de Gardel enquanto comparação futebolística entre Argentina e Uruguai na Copa América 2011 com os diários esportivos Olé (ARG) e Ovación (URU) tentando associar ora Lionel Messi ora Diego Forlán como o “Gardel do Futebol”. Dessa forma, há a constatação da criação de uma identidade baseado em um conflito gerado por uma mestiçagem cultural, onde um gênero musical com raízes na cubana habanera e dançado na cena boêmia de Paris, se torna através do processo de monumentalização de Gardel, a expressão maior daquilo que caracteriza o rio-platense, amálgama inquieto entre argentinidade e uruguaidade.

Palavras-chave: Tango; Carlos Gardel; Memória; Identidade



De idílios, exílios e entre-lugares: canções migrantes na obra de Marina de La Riva
Simone Luci Pereira
simonelp@uol.com.br

Esta comunicação analisa a trajetória artística e a performance (Zumthor, 1997) da cantora Marina de La Riva, particularmente seu último álbum, Idílio, de 2012. Brasileira, filha de mãe mineira e pai cubano, a trajetória desta artista evidencia características de canções migrantes fruto de escutas em trânsito de sujeitos caribenhos que vivem por aqui, tema que vem sendo estudado em meu pós-doutorado no PPG Música – UNIRIO. Homi Bhabha (2001) destaca que a atualidade coloca em destaque vidas na fronteira, ou seja, sujeitos que se veem na condição de possuidores de múltiplas identidades, cambiantes, articulando diferenças culturais, como nos parecem ser estes imigrantes caribenhos no Brasil. Daí a necessidade, segundo o autor, de ultrapassarmos as narrativas de subjetividades originais e iniciais e focalizarmos os processos que são produzidos na articulação de diferenças culturais, estes “entre-lugares”, que fornecem subsídios para a elaboração de estratégias de subjetivação coletivas que dão origem a novos signos de identidade destes sujeitos traduzidos. A escuta midiática do bolero nos tempo presente (com todas as suas mudanças), aparecem como nações representadas, imaginadas, narradas, em que as canções midiáticas têm papel fundamental como narradoras de sentidos, de universos sonoros, mundos perdidos ou reencontrados. O bolero e sua escuta por Marina de La Riva podem ser analisados, assim, levando em conta o papel das mídias e da própria imigração dos sujeitos ouvintes na conformação de territórios culturais intersticiais (Appadurai, 2004), onde diferenças, memórias e escutas se encontram e tem que negociar espaços, trajetos, convivências. Este trânsito entre sonoridades brasileiras e caribenhas na obra da artista acabam por redimensionar e redefinir noções pré-estabelecidas de gênero musical como categorias fechadas, definidas e estanques. Lembrando as reflexões do musicólogo Rubén López Cano (2002), a categorização das músicas em gêneros se articula às diferentes competências musicais dos ouvintes, à sua capacidade de produzir sentido àquilo que escuta, fazendo com que as divisões das canções em gêneros deva se definir pela lógica dos usos da música, levando em conta contextos sociais, culturais e históricos em que ocorre a escuta. Além disso, a constituição de gêneros musicais passa pelos interesses mercadológicos e também político-ideológicos, articulando-se muitas vezes a projetos de Estado-Nação e como símbolos de culturas e identidades (Martin-Barbero, 1997). Nesse sentido, ao mesclar num mesmo álbum samba, choro, mambo, bolero e ao misturar estas influências musicais dentro de uma mesma música, a cantora Marina de La Riva nos inquieta a pensar sobre como refletir sobre os processos de tradição seletiva (Williams, 1979) (o que se deve conservar/esquecer) e suas articulações com noções de pertencimento/identidade projetadas por estas canções, não abandonando a noção de gênero musical, mas atentando para a sua fluidez, à sua característica aberta, apropriada e reapropriada em diferentes momentos e contextos.

Palavras-chave: bolero, escuta, gênero musical, imigrantes



De longe/ De perto: poéticas vocais e produção de presença
Leonardo Davino de Oliveira
leonardodavino@yahoo.com

No livro Produção de presença, Hans Ulrich Gumbrecht (2010), sugere que devemos estar atentos para o impacto que os objetos "presentes" exercem sobre nossos corpos. Mas vai além quando observa que as novas tecnologias avançam no objetivo de satisfazer nosso desejo (humano) de presença. Presentificar algo, ou alguém, é poesia: produções de sentido – tornar presente o que jamais esteve ausente de nós, mas que pelo automatismo cotidiano perdeu a graça e a intensidade. Presentificar é dar cor ao óbvio e inflamar sentidos. Ainda para Gumbrecht, "a poesia talvez seja o exemplo mais forte da simultaneidade dos efeitos de presença e dos efeitos de sentido". Claro está que as tecnologias têm ajudado às nossas necessidades de canto, de canção (SLOTERDIJK: 2003). Novos equipamentos técnicos de reprodução (BENJAMIM: 1986) e mobilidade tendem a facilitar isso. Hoje podemos carregar nossas neosereias na palma da mão. As tecnologias (SANTAELLA: 2007) têm nos oferecido a oportunidade de ouvir (presentificar), cada vez mais customizada e individualmente, as vozes necessárias à nossa afirmação no mundo: os cantos de reconhecimento tão diversos e mutantes quantos nossos desejos, humores e vontades (CAVARERO: 2011). Este trabalho tem o objetivo de pensar sobre tais questões, e sobre o modo como a voz mediatizada exerce uma força material tamanha – concreta – no ouvinte, a partir da audição e análise de algumas canções populares radiodifundidas.

Palavras-chave: Presença; Poéticas Vocais; Mediatização; Canção Popular.



Discurso sobre a Astronomia em Canções do Rock n' Roll: Uma perspectiva sociocultural e uma possível interface no ensino de ciências
Emerson Gomes

Este trabalho pretende promover uma interface entre arte e ciência, especificamente quanto ao discurso sobre a astronomia em canções do rock n' roll. Neste caso, através de referências da crítica da cultura (KELLNER, 2001; SEVCENKO, 2001; FRIEDLANDER, 2010), da musicologia (ATTALI, 2001; IAZETTA, 2009) e da história e da epistemologia da ciência (LEVINE, 1994; FEYERABEND, 2007), norteamos pontos de consonância entre a cultura do rock e o desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente as missões espaciais e refletimos sobre uma possível presença dessa interface no ensino de ciências. O objeto de estudo são canções de artistas e conjuntos (David Bowie, Queen, The Police, Mutantes e Paralamas do Sucesso) que possuem um discurso sobre ciência e tecnologia em suas canções. Como referencial de análise discursiva, utilizaremos a análise de discurso derivada dos trabalhos de Bakhtin (2006) e  possui como arcabouço teórico a pedagogia sociocultural de Georges Snyders (1988, 1988) que defende o uso de produtos da cultura primeira do estudante, de forma a trazer satisfação cultural ao educando.

Palavras-chave: Canção, Rock, Arte-Ciência, Educação



Diversidade na música de Hermeto Pascoal
Daniel Zanella dos Santos
danielsantos.sc@gmail.com

Este trabalho procura investigar como Hermeto Pascoal contempla a diversidade cultural dentro do seu pensamento musical, o qual ele denomina de “música universal”. A prática central da música universal de Hermeto consiste no que ele chama de “mistura”, juntando variadas influências e sons em sua obra. Estas misturas musicais abrangem diversos elementos, dentre os quais se destacam principalmente os sons tradicionalmente não musicais – como a fala humana e os ruídos e sons de animais – e também os sons das mais diversas tradições musicais, sobretudo de tradições musicais brasileiras de cunho popular. Contudo, recusando associações com uma identidade nacional brasileira, Hermeto define sua música através do termo música universal, como uma tentativa de desterritorialização de sua música, que o compositor justifica afirmando que ela não tem fronteiras. Hermeto considera sua música como universal porque ela tem a potencialidade de abarcar todos os estilos e sons possíveis. Esta atitude revela uma sonoridade híbrida, calcada na soma de elementos aparentemente contrários, que são fundidos, sobrepostos ou justapostos com o propósito de criar novidade e contraste. A partir desta visão musical inclusiva procura-se traçar as características desta diversidade cultural em seu pensamento musical, demonstrando algumas possibilidades de realização através de exemplos retirados de algumas de suas gravações do disco Mundo Verde Esperança (2002).

Palavras-chave: Hermeto Pascoal; diversidade; hibridismo; musica universal



Documentários musicais: poéticas e estilos narrativos na migração da música para o cinema
Cynthia Schneider
cyls72@uol.com.br

Um fenômeno recente no cinema brasileiro, caracterizado por um surto de documentários do subgênero musical, invade a lista dos filmes de não-ficção que chegam às grandes telas do País. Esses filmes tem dinâmicas próprias de contextualização, seja da ordem das relações sociais, seja da economia política da mídia. É sobre este corpus de pesquisa - os filmes documentários musicais brasileiros realizados no séc. XXI - que recai a atenção deste artigo. A grande quantidade de filmes é justificada por princípios dos estudos culturais e o enfoque selecionado pertence à análise fílmica. O estudo considera os filmes documentários musicais registrados na ANCINE no período. O aporte teórico referencia-se nos estudos do cinema documentário conforme proposto por Ramos (2008) e nas propostas metodológicas de análise fílmica de Marie e Jullier (2009). O objetivo do estudo é contribuir para a observação metodológica do cinema documentário musical brasileiro recente, refletir sobre as possíveis categorizações destes filmes, compreender suas proposições estilísticas e, especialmente, identificar como se desenha poeticamente o plano simbólico cultural da MPB no encontro com o cinema documentário.

Palavras-chave: Documentário musical brasileiro, poética e narrativa audiovisual, análise fílmica



Do gueto à televisão: a música espanhola em São Paulo e a trajetória de Triana Romero
Rita de Cássia Lahoz Morelli
rclm@unicamp.br

Nesta comunicação pretendo discorrer sobre a trajetória da cantora e pianista Triana Romero, nome artístico de Odete Carrara, filha de espanhóis nascida em São Paulo na década de 1930. A maior ênfase será dada à sua participação ativa nos eventos artísticos promovidos pelo Grêmio Dramático Hispano-Americano na capital paulista nos anos de 1940 e 1950 bem como à sua contratação pelas Emissoras Associadas e à sua especialização como intérprete de música espanhola em programas na Rádio Tupi e na TV Tupi no mesmo período. O objetivo desta comunicação, além do resgate e do registro histórico dessa grande artista, que até hoje atua como pianista, fazendo o acompanhamento dos ensaios do Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, é refletir sobre a surpreendente continuidade existente àquela época entre o que se poderia chamar de “música de gueto” e o que se poderia chamar de “música massiva”, em razão da acolhida dada às músicas típicas das principais colônias de imigrantes pelas emissoras de rádio e de TV de São Paulo, sobretudo a rádio e a TV Tupi.  É também objetivo desta comunicação registrar informações sobre as atividades culturais do Grêmio Dramático Hispano-Americano e sobre a participação da música espanhola na programação massiva do período. Cabe salientar que esta comunicação é desdobramento de pesquisa realizada com apoio da FAPESP intitulada “Músicas e músicos na TV de São Paulo: trabalho, distinção e identidade (1954-1969)”.

Palavras-chave: música espanhola; São Paulo; clubes de imigrantes; televisão



“El extranjero” en “Comes y te Vas”: Performance y Performatividad en la obra de Alejandro García Villalón "Virulo"
Cássio Dalbem Barth

En el marco de la Cumbre de la Organización de las Naciones Unidas en Monterrey, en marzo de 2002, el presidente anfitrión mexicano Vicente Fox, a pedido del gobierno estadounidense, le pidió a su par cubano, Fidel Castro, a través de una llamada telefónica, que se retirara del evento antes de la llegada del mandatario George W. Bush. El incidente, apodado de “Comes y te vas”, generó una canción, un espectáculo musical escénico y una grabación discográfica y digital en vivo en manos del cantautor humorista de origen cubano y hoy nacionalizado mexicano, Alejandro García Villalón “Virulo”. Nuestro objetivo es entender qué es lo que se produce discursivamente en términos socioculturales desde distintos grados de performance: la grabación en vivo del espectáculo, la audición de archivos de audio y de videos en streaming producidos a partir del evento primario y la actuación/interacción en distintos niveles de audiencia y performers. El marco teórico-metodológico está basado en los Estudios de Performance (Auslander, 2006) y en el abordaje sociológico del “extranjero” de Simmel (1986) y Schütz (2010). Se concluye que el rol asumido por Virulo como “foráneo” le permite exponer indagaciones molestas que los patrones culturales de la sociedad de acogida insisten en eliminar (Schütz, 2010), desafiando a su público en México a retomar y repensar su pasado político a través de chistes y canciones performados en diversos niveles. Este análisis se justifica por su contribución a los estudios de música y migración a partir de los Estudios de Performance.

Palavras-chave: Diáspora Cubana en México; Performance; Alejandro García Villalón "Virulo"



Em busca do popular no teatro de revista de Florianópolis: a música como indício de inserção social (1920-1930)
Márcia Ramos de Oliveira
marciaramos@cpovo.net

O teatro de revista, enquanto gênero específico de dramaturgia, destacou-se consideravelmente enquanto forma de entretenimento e manifestação artística na longínqua capital catarinense, afastada dos centros de efervescência cultural do país, a exemplo da capital federal, na década de 1920.
A década que marcou a crescente presença do cinema, ao dividir a cena de dramaturgia nas salas de espetáculo, caracterizou-se também por dar vazão a crescente busca pelo cosmopolitismo nas diversas capitais brasileiras, através das grandes reformulações do espaço urbano, enquanto evidência da almejada modernização, em compasso com a afirmação das instituições republicanas.
Florianópolis, no entanto, dispunha de apenas um teatro lírico, o antigo Teatro Santa Isabel, reformado e rebatizado como Teatro Álvaro de Carvalho e, não comportava, ainda que o pretendesse, grandes montagens, ou espetáculos mais dispendiosos. Neste contexto, expressões menos luxuosas ou dispendiosas, que pudessem também ser pagas pelo público mais modesto do lugar puderam ser encenadas, e como tal, tiveram repercussão nos periódicos locais e, enquanto influência a uma produção própria, de autores, compositores e artistas da cidade.
Tais peculiaridades originaram entre 1920 e 1930 uma série de montagens bastante concorridas do público florianopolitano, como atestam os jornais do período, no acompanhamento crítico constante.
Este trabalho está voltado a apontar a especificidade do teatro de revista em Florianópolis, destacando entre suas características, a ausência dos gêneros musicais carnavalescos nestas produções, a exemplo da marchinha e do samba, assim como dos compositores associados a este universo.

Palavras-chave: Teatro de Revista; Teatro em Florianópolis; Música



Exílio ou Morte: A Perseguição Nazista aos Músicos “Degenerados”
Sandro Figueiredo

Nesta comunicação, apresento um excerto de minha tese de doutorado, que se dedica a investigar a linguagem da manifestação identitária em um século de canção alemã. Abordarei a perseguição nazista ao músicos que praticavam a chamada “música” degenerada, categoria que compreendia toda manifestação musical que não servia aos propósitos do partido, não fosse considerada “verdadeiramente alemã” ou apenas fosse praticada por músicos judeus ou estrangeiros. O objetivo da comunicação será apresentar o processo de perseguição aos músicos desde sua origem, exemplificando, por meio de histórias reais, casos de músicos profissionais que partiram para o exílio, foram mandados para campos de concentração ou perderam a vida vitimados pelo nazismo. Neste sentido, apresentarei o trabalho da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, que compilou, nos últimos 20 anos, farto material de documentação no campo de estudo chamado “Exilmusik”. Em 2005, a universidade publicou o “Lexikon verfolgter Musiker und Musikerinnen der NS-Zeit” (Léxico de músicos e musicistas perseguidos durante o nazismo), uma publicação on-line, aberta à consulta de todos os pesquisadores do tema. Outra fonte de dados apresentada será a exposição “Entartete Musik” (Música Degenerada), realizada em 1938, em Düsseldorf, na qual foi exposta a música que estava em desacordo aos propósitos nazistas.



Fronteiras e territórios do fado na contemporaneidade: As representações identitárias e sociais a partir da vida de Maria Severa, Amália Rodrigues e Mariza
Ricardo Nicolay de Souza
ricardo.nicolays@gmail.com

O fado pode ser considerado o símbolo musical maior de Portugal, representando a identidade da sociedade portuguesa. Ele pode ser entendido como a expressão mais verdadeira da alma do povo lusitano e muitas vezes interpretado de forma simples como uma canção trágica, triste e melancólica, mas que traz consigo também a arte de cantar a vida, os amores, as alegrias e ideologias políticas de uma sociedade. Com duzentos anos e muitas teorias sobre suas origens postas em discussão por diversos campos do conhecimento, o fado faz-se presente na vida quotidiana de muitos portugueses, tendo superado fronteiras sociais, culturais, políticas e econômicas importantes ao longo de sua trajetória. Das casas de má fama do século XIX até hoje, considerado patrimônio imaterial da humanidade, pode-se inferir que a participação de três mulheres, Maria Severa, Amália Rodrigues e Mariza, foi determinante em seu processo de desenvolvimento enquanto gênero musical. O objetivo do presente texto é mostrar a importância do trabalho desempenhado, consciente ou inconscientemente, por estas mulheres durante suas vidas, curtas como a de Severa, longínquas como a de Amália e atuais como a de Mariza, para que o fado fosse difundido e consolidado em Portugal e pelo mundo como símbolo representativo de uma cultura. Para isso, serão analisados três tempos históricos que podem ser caracterizados como pré-Salazarista, Salazarista e pós-Salazarista, que com suas especificidades e nuances contribuem para a riqueza da história do fado.

Palavras-chave: Mariza; Amália Rodrigues; Maria Severa; Fado; Identidade social.



Hibridismo na cantoria da companhia de Reis “Estrela da Guia”
Jacqueline Ruzzene Falcheti
fal_jack@hotmail.com

A Folia de Reis é uma manifestação secular que se enraizou no imaginário popular do Brasil desde a colonização (TINHORÃO, 1998; CAVALHEIRO, 2005). Dentre os elementos do seu cortejo, a cantoria (voz) é algo sagrado e essencial. Com temática dos reis magos e do nascimento de Jesus, os cantos também relatam profecias, gratidão e fé aos santos, bem como são marcadores dos lugares, das participações, dos objetos, entre outros elementos do seu entorno. Nas tradições orais, valores culturais e/ou morais são passados de uma geração a outra pela voz (ZUMTHOR, 2005, 2007 e 2010). Tais tradições costumam transformar-se no intuito de se adaptarem e dialogarem com vários contextos culturais. Canclini (2008) usa o termo “híbrido” para designar esta miscigenação que ocorre com as manifestações culturais, pois o sincretismo é intrínseco à sua natureza. Esta pesquisa investiga as características vocais da Companhia de Reis Estrela da Guia, de Olímpia (SP), com o objetivo de destacar as especificidades da voz, do improviso e da sonoridade, tendo em vista a grande influência do diálogo entre o rural e o urbano, com destaque especial ao hibridismo com a música caipira (TREMURA, 2004; NEPOMUCENO, 2000). Foram coletadas e analisadas canções durante o giro da Estrela da Guia e, dentre as inúmeras transformações encontradas até o momento, destacam-se a nova organização da performance vocal e a participação pioneira de novos integrantes (mulheres, por exemplo).

Palavras-chave: Folia de Reis, cultura popular, voz, música caipira, cantoria, improviso



Imigração e memória: a música italiana e os italianos em São Paulo
Valéria Barbosa de Magalhães
vbmagalhaes@usp.br

O objetivo da apresentação será falar dos resultados preliminares do subprojeto A Música Italiana na Memória Coletiva da Imigração Paulistana, que utiliza a história oral como método e está sendo desenvolvido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em História Oral da Universidade de São Paulo e pelo Musimid. A responsável pelo subprojeto é Valéria Barbosa de Magalhães e a coordenadora do projeto geral é Heloísa Valente (financiamento: CNPq).
O subprojeto: A Música Italiana na Memória Coletiva da Imigração Paulistana tem por objetivo entender, por meio de narrativas de histórias de vida, o papel da música para a memória coletiva da imigração italiana no Brasil. Parte-se da hipótese de que o imigrante traga a musicalidade em seu arcabouço de lembranças como forma de reforço de sua identidade. Pretende-se verificar possíveis variações na memória musical do imigrante conforme sua origem regional e o período de chegada ao Brasil. O método utilizado é a história oral, com técnica da entrevista temática.
Na apresentação, resumiremos as características da imigração italiana no Brasil e apresentaremos as conclusões iniciais tendo por base as entrevistas coletadas.

Palavras-chave: imigração, italianos no brasil, memória, história oral



Imigrantes e migrantes: Construtores e criadores de espaços
Juliano Pita

As ondas migratórias do final do séc. XIX e do início do séc. XX contribuíram para formatar as cidades em franco crescimento na época. Originalmente trazidos para substituir a mão de obra escrava nas lavouras, logo seus conhecimentos e habilidades técnicas definiram a prática profissional urbana, sobretudo na construção civil. Eram imigrantes os mestres de obra, carpinteiros marceneiros e demais artesões desta indústria, e seus ofícios definiram e qualificaram grande parte dos espaços das cidades que viriam a se tornar metrópoles. Ao passo que prosperavam em virtude de seu ofício, seus gostos herdados de sua terra natal influenciavam a cultura local: sua arte não mais poderia ser classificada como estrangeira, mas tornara-se parte do amálgama cultural local. Com o tempo, não mais somente operários e desempregados em seus países de origem viriam “fazer a América”; artistas (escultores, ebanistas, pintores, arquitetos) e técnicos (engenheiros) também encontraram aqui terreno fértil para desenvolver suas habilidades e viver de seu ofício. Em relação à música, sua influência não se restringiu aos ritmos e letras: espaços foram criados para que esta arte pudesse ser executada a contento. As casas de ópera e de concerto construídas nesta época são testemunhos desta influência no espaço, mas não se limitam a estas, podendo-se traçar paralelos na música popular e nos espaços de encontro desta comunidade.



Indústria fonográfica brasileira no século XXI: de onde veio e para onde caminha junto à música
Antonio Deusany de Carvalho Junior, Luiz Fernando de Prince Fukushiro, Marcel Oliveira Souza
dj@ime.usp.br

O surgimento das tecnologias de gravação, transmissão e reprodução de sons deu início ao que Schafer chamou de “era da esquizofonia” (SCHAFER, 2001), trazendo consequências decisivas para o campo da música. Ao longo do século XX, observou-se a estruturação de um mercado fonográfico que, com as inovações tecnológicas, precisou reconfigurar suas relações de consumo (DIAS, 2000). No século XXI, o advento da internet e tecnologias de compactação digital – bem como de seus desdobramentos – trouxeram uma mudança nas formas de comercialização da música (ANDERSON, 2006). A possibilidade de obtenção de obras musicais por meio de download facilitou o alcance do público e, por outro lado, dificultou o tratamento dos direitos autorais e da própria idéia de autor (IAZZETTA, 2010). A partir da análise dessas transformações, buscamos problematizar o comportamento do mercado fonográfico diante do surgimento, cada vez mais rápido, de novas formas de consumo no mundo da música. Considerando diversos trabalhos sobre a realidade da indústria fonográfica (MORELLI, 2009) e através da associação de dados e relatórios atuais, intencionamos apontar as várias mudanças e tendências dadas. Com a análise de algumas novas alternativas, como "musica nas nuvens" (WIKSTRÖM, 2009), vamos apresentar resultados que mostrem que tecnologia e mídias alternativas juntas vieram para facilitar todo um processo custoso que oferece além de novas possibilidades estéticas uma certa democratização dos meios de produção musical, aumentando também o número de músicas e artistas no mercado fonográfico, sejam associados a majors, a gravadoras independentes ou mesmo de gestão própria de sua obra.

Palavras-chave: indústria fonográfica, tecnologia, direitos autorais, mídia digital



Não me altere o samba tanto assim: Notas sobre transformações estético-ideológicas ocorridas no samba da década de 1970
Eduardo Lima Visconti
eduvisconti@yahoo.com.br

Esta comunicação pretende analisar algumas mudanças nos aspectos formais e no conteúdo de alguns sambas produzidos no início dos anos 1970 por uma geração de sambistas que se projetou comercialmente nessa época, dentre eles, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. A análise se norteia pela ideia de que as contradições e conflitos, presentes no processo de consolidação e internacionalização do mercado de bens culturais no Brasil orientado pelo governo militar, possuem possíveis relações com estas transformações.No âmbito musical, as mudanças se configuraram a partir da mistura de elementos musicais e sonoridades que foram incorporadas ao samba através da utilização de timbres eletrônicos como baixo e piano elétrico e a redução do acompanhamento rítmico percussivo pela bateria.  Articulado a esses recursos de textura, o conteúdo das letras parece reformular a noção de autenticidade, se voltando para a valorização do legado da cultura afro-brasileira (identidades restritas/guetos) em contrapartida aos valores nacionais. Como consequência desse processo, tem-se uma nova estrutura narrativa que aponta para uma redefinição dos parâmetros balizadores de nossa identidade cultural. Dentro desse contexto, busca-se investigar sinteticamente como algumas obras híbridas desses compositores condesaram relações entre local/global e nacional/internacional em suas dimensões internas e até que ponto traduziram conflitos e disputas inerentes ao andamento histórico de sua produção.

Palavras-chave: samba na década de 1970, fusões musicais, identidade cultural.



NEOJIBÁ, os toques brasileiros na experiência musical e sociocultural venezuelana
Naira de Brito Poloni
nairabp@hotmail.com

Este artigo analisa como o NEOJIBÁ (Núcleo de Orquestra Juvenis e Infantis da Bahia) vem obtendo êxito na condição de um projeto sociocultural em vigor em um país em vias de desenvolvimento como é o Brasil, no sentido de transformar a realidade sociocultural de jovens por meio da música. Ao seguir os passos do modelo venezuelano El Sistema, o NEOJIBÁ se consagrou como um processso de hibridação, nas palavras do pensador Nestor Canclini, na medida em que consolidou “o diálogo entre estruturas distintas, obtendo fusões entre si e gerando novas estruturas”, percebe-se esse processo entre estilos musicais e entre as artes. Realizado através de entrevistas livres e semi-estruturadas com o idealizador Ricardo Castro, adiretora administrativa do programa Elizabeth Ponte e o secretário da cultura da Bahia Antonio Rubim.

Palavras-chave: NEOJIBÁ, orquestra, hibridismo.



O cenário da música erudita em Vitória
Livia Rodrigues Batista
livia-rb@hotmail.com

O presente trabalho resulta de uma pesquisa de Iniciação Científica realizada no Departamento de Teoria da Arte e Música (DTAM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Surgiu do interesse de conhecer mais detalhadamente o cenário de música instrumental de concerto na capital do estado do Espírito Santo ante a opinião do senso comum de que o estado é “atrasado culturalmente”. Tal opinião é defendida por Thompson (2011) ao dizer que “o descaso político e econômico para com o Espírito Santo durante tantos séculos acarretou um forte e prejudicial atraso do desenvolvimento cultural local”. Através do estudo, busco mapear o cenário atual tomando como marco o início das instituições pesquisadas – duas orquestras e uma faculdade de música –, sendo as primeiras escolhidas por serem as de maior notoriedade. Para dar cabo do trabalho optamos por empregar o sistema de entrevistas, como complemento à bibliografia existente. Existe no Espírito Santo um anseio por constituir uma cena musical erudita, através da criação e manutenção de uma orquestra sinfônica, fato discutido por Magalhães (2011), ao dizer que a ideia de o estado possuir sua orquestra sinfônica era tratada como “delírio”. Entretanto, entusiastas, professores e músicos – todos muitas vezes naturais de outros estados – persistiram na ideia e atualmente a música erudita executada em Vitória começa a ter visibilidade em âmbito nacional, equiparando-se a orquestras existentes em outros estados brasileiros. A configuração do cenário atual deve-se a personagens de várias influencias e diferentes concepções, com formações adquiridas em locais distintos.

Palavras-chave: música erudita, Vitória (ES), orquestra, grupos sinfônicos



O realejo nas ruas do Rio de Janeiro (1890-1920) marca da presença italiana e matriz de nostalgias
Monica Vermes
mvermes@gmail.com

A imigração de europeus para o Brasil foi questão prioritária e subsidiada pelo imperador D. Pedro II. A população do Rio de Janeiro viu-se transformada ao longo do Segundo Império com esse contingente de imigrantes, em sua maioria portugueses e italianos, que se ocupavam principalmente da prestação de serviços, entre eles a música. (MAGALDI, 2004). Essa população de composição complexa, em termos de origem nacional, etnia, classe social, manifestava-se acusticamente nas ruas da cidade também de forma complexa. No período que aqui nos interessa (1890-1920), as ruas do Rio de Janeiro foram importante espaço de convivência. Vendedores entoando seus pregões, senhores e – agora também – senhoras que passeavam, músicos ambulantes eram algumas das personagens das ruas, transformando-as em palco de novos ritos de sociabilidade, retratados por cronistas como Luiz Edmundo e João do Rio. Entre os músicos, um dos mais frequentemente citados é realejo, tipicamente italiano. As melodias dos realejos tiveram um papel na circulação de repertórios e na formação do gosto, além de ocupar espaços na cidade, na rua da Misericórdia ou nos cortiços (COSTA, 1957) e de ativar a nostalgia de tempos e lugares distantes (ASSIS, 1994). Neste trabalho propomos um levantamento histórico da presença do realejo na cidade do Rio de Janeiro entre 1890 e 1920 a partir da historiografia musical brasileira e da obra de cronistas e memorialistas e uma reflexão sobre o significado dessa prática para a sociedade carioca da época e sua persistência na memória coletiva como símbolo de distância (e nostalgia).



Paraguai e Brasil: a música como reveladora de conexões
Evandro Higa

Fomos convidados a participar deste 8º. Encontro MusiMid como integrantes da mesa “Das comunidades aos guetos”. Considerando que estamos em fase de redação de tese de doutoramento no Instituto de Artes da Unesp sob orientação do prof. Dr. Alberto Ikeda, resolvemos dividir, neste evento, parte de nossas pesquisas e reflexões sobre a introdução do gênero musical guarânia no Brasil nas décadas de 1940-1950. Tendo em vista que a palavra “gueto” se refere a uma minoria isolada da sociedade, propomos aqui uma inversão da trajetória contida no tema da mesa. A partir do fato de que parte da população de origem paraguaia, que desde o final da guerra de 1864-1870 (Guerra da Tríplice Aliança) ao emigrar para o Brasil passou a viver em uma espécie de gueto simbólico, constatamos que através da música uma série de conexões foram estabelecidas, levando o campo da música sertaneja a incorporar em seu universo sonoro e poético, determinados padrões musicais e expressivos das polcas paraguaias e guarânias, introduzindo a cultura paraguaia em uma comunidade nacional brasileira. Claro que esse trajeto que vai do gueto à comunidade não é feito somente de diálogos e trocas cordiais, pois os conflitos, os preconceitos, as discriminações, enfim, os processos de lutas simbólicas estão presentes nesse processo o tempo todo.



Projeto Travessia: Música e mídia numa perspectiva escolar
Eudes André Fernandes da Cunha
eudesafc@gmail.com

Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre o uso da mídia como recurso principal no ensino de música do ensino médio, que, de acordo com normas estabelecidas pelo Ministério da Educação, apresenta a obrigatoriedade do ensino de música, tanto nas escolas das redes estaduais e municipais, como na rede privada (lei de nº 11.769).Visando se adequar a esta resolução, os estados da federação, que também tentam corrigir os seus fluxos negativos de escolaridade, formalizaram um grande convênio com a Fundação Roberto Marinho, adotando como um de seus programas educacionais o “Projeto Travessia”, onde o uso de mídias, especificamente em formatos de vídeo (DVD), é um dos pilares desse projeto, objetivando assim, trabalhar os conteúdos de todas as disciplinas, inclusive o ensino de música, seguindo a determinação do MEC. Como professor deste projeto e músico profissional, observo que a proposta não trata de um curso formativo, onde os conteúdos são direcionados a formação técnica e profissional do discente, porém, situa sua abordagem numa perspectiva voltada à apreciação musical e que tem como principal recurso para o professor, um disco (DVD), contendo cinco (05) “teleaulas”, onde são abordados, dentre outros pontos, definições de som, melodia e harmonia.Assim, este trabalho pretende demonstrar como a lei acima citada está sendo cumprida através do “Projeto Travessia” e, complementarmente, refletir sobre o ensino de música através do uso de recursos midiáticos, buscando compreender como essas mídias podem ser trabalhadas em sala de aula e se elas estão ou não alcançando os resultados esperados.

Palavras-chave: ensino de música; mídia; apreciação musical; formação profissional.



Rock/Metal em Montes Claros-MG: uma cena cosmopolita
Tiago de Quadros Maia Carvalho
tiago.carvalho@yahoo.com.br

A cena do rock/metal em Montes Claros-MG, existente desde a década de 1950, apresenta-se num discurso diferenciado do que se diz “tradicional” nessa cidade. Mesmo assim, pode-se dizer que ela está em constante negociação com outros mundos musicais montes-clarenses. Esse “afastamento” remete à ideia de cosmopolitismo (Turino 2003), relacionada a comunidades com discursos que se dizem “à parte” da dinâmica local. Assim, para Thompsom (1999), a recepção e ressignificação de elementos que circulam em fluxos globais de pessoas e informações (Slobin 1992) gera certo afastamento simbólico de onde se faz parte, permitindo o questionamento e modificação de paradigmas culturais vigentes. O presente trabalho discutirá a cena do rock/metal em Montes Claros-MG e sua ligação com práticas, elementos e processos remetentes a ideia de cosmopolitismo, bem como de afastamento simbólico. Para tanto, serão apresentados os dados resultantes de uma pesquisa realizada entre os anos de 2008 e 2011 (Carvalho 2011), contextualizando a cena do rock/metal e a sua dinâmica social. Em seguida, serão discutidas as bases teóricas do trabalho. Com base nesses marcos, far-se-á uma breve análise das práticas musicais/sociais desse contexto, evidenciando traços que indiquem uma comunidade cosmopolita. Conclui-se, portanto, que a prática musical desse contexto – refletida em repertórios, organização social, figurinos, comportamentos, iconografias e posicionamento mercadológico – é marcada pelo embate de concepções entre mundos musicais da cidade, indicando contatos nesse espaço, apesar da noção de desligamento das “tradições” da cidade ou de afastamento simbólico.

Palavras-chave: Cena do rock/metal em Montes Claros-MG; Cosmopolitismo; Afastamento Simbólico



“Saudade é uma faca afiada”: O grupo Expresso Rural na estrada catarinense nos anos de 1980
Scheyla Tizatto dos Santos
scheyla.tizatto@gmail.com

A música que se define como a manifestação artística de sons, é repleta de signos, símbolos e significados. Por este fator, ela ocupa em um lugar especial na história cultural. Lugar híbrido e heterogêneo, que apresenta as mais variadas informações, como: mediações, mestiçagens (VALENTE, 2007, p. 81.), encontro de identidades e etnias. Revela características sociais e regionais, que compõe a paisagem nacional. Para além desse caráter informativo, a música tem sido durante todo o século XX, uma das formas de cada sociedade expressar seus dilemas, denúncias, desejos e também, como veículo de suas utopias sociais. A compreensão da música como fonte de conhecimento histórico, requer a compreensão de sua dimensão espaço temporal, “como categorias fundamentalmente contingentes de percepção historicamente enraizadas, estão sempre intimamente ligadas entre si de maneiras complexas.” (HUYSSEN, 2000. p.10). Sendo um documento de características específicas, de maneira que deve ser pensado e analisado a partir de seus aspectos melódicos, poéticos e oral. A música é também um lugar de memória (POLLAK, 1989, p. 03.), assim como, a arquitetura, as paisagens, os personagens, as tradições. Todos esses elementos têm uma relevância à qual somos convidados a lembrar constantemente, através de comemorações, de eventos institucionais, de hinos, singles e spot publicitários. Essas estratégias de lembrança atribuem à música um repositório de memória. A lembrança é então, “entendida como substantivo do verbo lembrar-se, que designa o fato de que a memória é exercitada” (RICOEUR, 2007, p. 71), embora, este exercício se ancore em uma experiência individual, ela é construída, a partir, de uma realidade histórica coletiva. Lembranças, histórias, músicas, silêncio e retorno, não se configuram aqui apenas como verbos, substantivos e objetos, mas, como contornos que orientam o olhar sobre a trajetória do grupo musical catarinense Expresso Rural, através da canção, Nossos Corações, do longplay intitulado Nas manhãs do Sul do Mundo, por considera-la como um olhar sobre uma escrita si, de um sujeito desterritorializado, mediante as tensões de viver em uma Capital dinâmica, e em constantes transformações, mas, como um documento que nos permite ter acesso ao passado, este, recordado e rememorado através das manifestações musicais.



Vida e Arte na Coleção Clara e Edward Steuermann
Amílcar Zani Netto

A pesquisa Vida e Arte na Coleção Clara e Edward Steuermann trabalha e disponibiliza ineditamente o material contido na referida Coleção, que se encontra atualmente na Divisão de Música da Biblioteca do Congresso de Washington, D.C., Estados Unidos. Personalidades determinantes na História da Música do século XX, Clara e Edward Steuermann, reuniram por décadas um material precioso que envolve personalidades como Arnold Schoenberg, Alban Berg, Anton Webern, Theodor Adorno, René Leibowitz, além de uma vastíssima correspondência familiar que reúne não apenas seus parentes próximos, mas personagens que tiveram um papel incontestável na formação cultural americana, a qual posteriormente se constituiu como influência inegável no desenvolvimento cultural universal: Charles Chaplin, Greta Garbo, Thomas e Heinrich Mann, Berthold Brecht, Michael Gielen e  Gunther Schüller, entre outros. Muitos foram, anos mais tarde, repatriados durante o macarthismo, acusados de atividades antiamericanas. O projeto faz o levantamento, pesquisa e publicação de material cujo ineditismo vai além de um objeto acadêmico. A pesquisa aborda, além das correspondências, textos de Edward Steuermann, entrevistas, transcrições de fitas gravadas contendo depoimentos, aulas, conversas telefônicas. Aborda também imagens, partituras inéditas e filmes, os quais gradativamente estão sendo disponibilizados no site www.projetosteuermann.usp.br, possibilitando a visualização dos documentos e imagens originais e permitindo assim que este material se torne acessível. Permite, além disso, a audição de obras compostas por Edward Steuermann, bem como a primeira gravação mundial da obra completa para piano de Arnold Schoenberg, realizada por ele na década de 40. Este projeto relaciona-se a dois projetos anteriores: pós-doutorado realizado na Divisão de Música da Biblioteca do Congresso em Washington, tese de Livre-Docência defendida na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e a disciplinas ministradas em cursos de graduação e pós-graduação.