domingo, 2 de agosto de 2020

Recuperando a memória do Centro de Estudos em Música e Mídia

Desde a sua fundação em 2001, o MusiMid vem se empenhando em registrar todas as atividades realizadas, projetos em andamento, parcerias institucionais etc. Com essa intenção, desde 2006, quando ocorreu o 2º Encontro, foi dado início à publicação dos trabalhos apresentados pelos participantes. Inicialmente, impressos; depois em CDROM, até a publicação digital.

A despeito de todos os cuidados, alguns incidentes desagradáveis ocorreram, como a invasão do servidor da página por hackers, roubo de materiais etc. impuseram dificuldades na obtenção dos materiais. Alguns deles, infelizmente, estão definitivamente perdidos.

Após um longo período de buscas, encontramos profissional que está recuperando e realocando todo o material – que não é pouco...- à disposição dos interessados. É tarefa exaustiva e demorada, ao mesmo tempo que necessária.

Ao visitar os materiais, podemos reencontrar amigos e mestres. É também o momento em que numa tristeza doce reencontrar aqueles que participaram das atividades e que, infelizmente, não mais aqui estão...

Com a atualização, passam a integrar à página documentos audiovisuais, pelo Castbox e Youtube: MusiMidRádio e MusiMidFilmes.

Paralelamente a esta recuperação importante, o criação da Revista Brasileira de Estudos em Música e Mídia vem completar este projeto de diálogo, intercâmbio e difusão da pesquisa nas áreas interdisciplinares da música com a comunicação.

Por fim, cabe reiterar, uma vez mais, que o trabalho da equipe é feito de maneira colaborativa e não visa lucro, não havendo formas de financiamento efetivas e regulares.


1o. Encontro de Música e Mídia: Resumos das sessões temáticas

 

 O imaginário da metrópole nas canções tropicalistas

Prof Dr. Marcos Napolitano (DH/USP)

 

Esta comunicação visa analisar as representações e imaginários da metrópole veiculados pelas canções tropicalistas produzidas entre 1967 e 1973. As referências tropicalistas à metrópole fizeram parte de uma nova maneira de ler a modernização brasileira, de forma diferenciada do imaginário veiculado pela canção engajada da época, ainda ligada às elegias do morro (campo) e do sertão

(subúrbio) como estratégia de crítica cultural e política. Nossa hipótese é que, ao trazer a centralidade urbana para as letras e para as sonoridades musicais, os tropicalistas procuraram enfatizar o choque arcaico-moderno, o cosmopolitismo periférico e a tradição poética modernista como eixos de uma nova crítica cultural à modernização brasileira. 

 

As Marcas Imemoriais nas Vozes dos Intérpretes Radiofônicos

Profª Drª Carmen Lúcia José

 

Porque os textos culturais se inscrevem num encadeamento de produção que envolve o acontecimento e a memória, o tema central deste trabalho é pensar como os textos radiofônicos atualizam fórmulas orais que, originariamente, pertencem a tempos e espaços primordiais, isto é, como algumas marcas produzidas pelo corpo funcionando como mídia das comunidades arcaicas são preservadas no repertório da espécie e reaparecem no presente das performances vocais radiofônicas, atualmente. Enfim, como o "performer" e o locutor continuam cantando/contando os atributos que devem ser lembrados para que outros sejam esquecidos, deslocando o lugar da memória: do corpo-mídia para uma máquina que, do corpo, se apropria da voz.

 

 

Namoro & briga, as artes do forró: auto-retrato de um baile popular brasileiro

Profª Drª Cláudia Neiva Matos

PACC/UFRJ /CNPq

 

Embora o samba seja mais amplamente conhecido como gênero representativo da cultura popular brasileira, quando se trata de dançar em pares enlaçados, o tipo de música mais difundido no país é certamente o forró. Usado para designar imprecisamente vários gêneros da música nordestina  (baião, coco, xaxado etc.), o termo “forró” costuma referir-se às peças de dança mais animadas, por oposição ao xote, de andamento mais lento. Mas também denomina o próprio evento dançante e o local onde ele ocorre: um baile popular animado por um pequeno conjunto de músicos, cuja formação mais tradicional é o trio de sanfona, zabumba e triângulo e/ou pandeiro. Como frequentemente acontece nas músicas feitas para dançar, um dos temas favoritos das letras de forró é a própria crônica do baile. Sob a perspectiva dos dançarinos ou dos músicos, o discurso descritivo e/ou narrativo, vazado de humor, apresenta situações e tipos característicos, girando normalmente em torno de dois tópicos: a licenciosidade erótico-amorosa propiciada pela dança; as ocorrências de conflito e violência. Sob ótica eminentemente masculina, os jogos da sedução e da valentia estimulam o psiquismo sensual e as energias corporais, concorrendo juntamente para “esquentar” o baile. Proponho uma análise poética e ideológica desse veio temático nas letras de forró, consideradas num sistema estético e semântico que inclui aspectos musicais e voco-performáticos. Para isso será examinado um extenso corpus de canções colhidas na obra dos dois maiores ícones da música nordestina brasileira, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mas incluindo também peças de outros artistas das velhas e novas gerações forrozeiras.

 

Sonoridades no ambiente urbano

Prof. Dr. Norval Baitello Jr.

 

O estudo das sonoridades no ambiente urbano pode apontar dois grande indicadores: um sintoma e um modelo. O sintoma nos conduz a uma enfermidade, o crescente desprezo pela sonoridade e o tipo de comunicação que ela requer. O modelo nos conduz a pensar hipóteses de um ecossistema comunicacional fundado em uma cultura do ouvir, portanto não centrado na produção e na produtividade

 

 

Gênero musical, música romântica e mediação.

 

Profª Drª Martha Tupinambá de Ulhôa

 

A noção de gênero musical, por mais difusa que seja, é fundamental para o estudo da música popular na América Latina.  A comunicação discute o conceito, tomando como ponto de escuta a chamada música romântica e o trabalho de Jesus Martín-Barbero. O estudioso da cultura latino-americana vê o gênero como um contexto de mediação entre a lógica da produção e os formatos industriais, por sua vez ressignificado a partir de matrizes culturais profundas. A mediação genérica explica os vários sentidos que vão tomando (ou retomando) os sons musicais ao longo do tempo. Assim, podemos escutar como valores culturais são mediados pela música romântica, inicialmente sob a forma de modinha de salão e depois canção seresteira popular, passando por boleros e sambas-canções, se inscrevendo na canção de amor ligada à Jovem Guarda e finalmente no formato transnacional da balada.

 

A Música Popular Brasileira na Oficina da História.

Prof. Dr. José Geraldo Vinci de Moraes

RESUMO Nos últimos anos tem crescido no circuito dos historiadores de ofício o número de trabalhos envolvendo temas relacionados à música popular urbana. Como ainda são raros os arquivos e bibliotecas organizadas de partituras e folhas avulsas, registros de gravações de discos e programas radiofônicos, não existem compilações sistemáticas, catalogações, quantificação e sistematização de discos e difusão de canções em espetáculos e nos meios eletrônicos, e assim por diante, boa parte dessas investigações ainda têm como referência e recorrem às obras de cronistas, jornalistas e colecionadores, sobretudo aquelas da primeira metade do século XX, geralmente qualificadas e tratadas exclusivamente como fontes primárias. Todavia, mais do que sujeitos atuantes de um processo em instituição e/ou simples memorialistas, esses cronistas formaram uma espécie de primeira geração de historiadores da moderna música urbana (Vagalume, Alexandre Gonçalves Pinto, Orestes Barbosa, Jota Efegê, Almirante e Lucio Rangel). Essa geração nascida na passagem dos séculos XIX/XX além dos registros da memória e dos eventos culturais, reuniu, organizou, compilou, arquivou e, sobretudo, “inventou uma tradição” na nossa cultura/música popular que permanece viva e é difundida até hoje. Na realidade eles criaram o “acervo”, a “narrativa” e consagraram uma interpretação sobre a música popular, formando, assim, uma espécie de corrente historiográfica. Além disso, eram na época seus únicos historiadores, pois, tanto para os historiadores de ofício como para os intelectuais preocupados com a preservação e difusão da cultura nacional a música popular urbana não tinha nenhuma relevância cultural ou social. Pois bem, essa discussão pretende justamente examinar de modo crítico o conjunto dessas obras como um autêntico trabalho historiográfico e como elas inauguraram um discurso que se solidificou e se consagrou com o tempo.

 

No princípio, era a roda

 

Roberto M. Moura

Professor-adjunto das Fac. Integradas Helio Alonso

Doutor em Música pela UNIRIO

robertommoura@uolcom.br

 

 

No princípio, era a roda refaz a trajetória histórica do samba a partir de duas convicções principais: a primeira, de que uma coisa é o samba, um gênero musical; outra, a escola de samba, sua institucionalização; e, uma outra ainda é a roda de samba, que é a ambiência que permitiu o desenvolvimento do samba como gênero e, portanto, antecede o gênero e a escola; a segunda convicção é de que a roda é o lugar onde o sambista se sente verdadeiramente em casa – e é isso que explica o seu ressurgimento desde que, com o crescimento e a profissionalização das escolas, estas se tornaram progressivamente mais “rua” para aqueles que a fundaram.

 

 A busca de uma "nova" música popular caipira

Alberto T. Ikeda (Instituto de Artes - UNESP -. S. Paulo)

 

Resumo: A comunicação tratará de um movimento na música popular de São Paulo que vem ocorrendo desde meados da década de 1990, de alguns grupos musicais (“bandas”) que se voltaram para as “raízes” da música paulista (cultura caipira), mas interessadas, ao mesmo tempo, na “modernidade”, sobretudo sob um lastro “pop-rock”. Provisoriamente, adoto para este movimento a denominação “pop-caipira”, diante do uso desse termo por alguns integrantes de bandas que estão sendo estudadas. Trata-se, tudo indica, de uma das facetas “locais” (neste caso paulista) dos tão disseminados processos de “releituras” estéticas, típicas da denominada “pós-modernidade”, que se tornaram modismo por todo o Brasil na década de 1990, sob o influxo também do movimento denominado world music. No caso de São Paulo, nota-se que a influência mais imediata nos grupos do “pop-caipira” foi a do movimento “mangue-beat”, iniciado em Pernambuco por volta do 1991, e que teve ampla repercussão por todo o País, destacando-se nele a figura do compositor Chico Science, falecido em 1997. Algumas bandas a serem comentadas são: Fulanos de Tal, iniciada em 1996, em Rio Claro; Mercado de Peixe, surgida em 1997, na cidade de Bauru; Matuto Moderno, que teve início na capital, em 1999; e outras. Busca-se nesta comunicação, introdutoriamente, uma compreensão dos meandros histórico-sociológicos que dão lastro ao movimento musical em questão.

 

 

 


sábado, 1 de agosto de 2020